Não, recuso-me a entrar na telenovela que encantou os políticos portugueses em meados do passado mês de Maio, acerca das notas que estariam no computador governamental eventualmente roubado e que, por esse provocado alarido, devem ser incendiárias q. b.
Ao longo da
vida, uma pessoa vai dando importância a muitas notas, diferentes para cada época
da sua existência.
Quando pequeninos
e adolescentes, as notas em cada uma das disciplinas escolares. Elas consubstanciam
o que os professores consideram ser o nosso nível de aprendizagem. Notas boas
valem miminhos; notas más equivalem a ralhos, corte de regalias adquiridas…
Durante o
curso – tecnológico ou científico – havia outrora o hábito de irmos tomando
notas do que o professor explicava, pois nem tudo vinha na ‘sebenta’ (quando esta
existia) ou nos livros recomendados. Hoje, conta-me o meu filho, que ousou seguir
a carreira de professor do pai, já notas se não tomam, porque o professor fala,
fala, mas eles, os estudantes, estão noutra, a ver os telemóveis, na expectativa
de que o docente lhes passe o PowerPoint explicado na aula, onde eles
mais não foram do que ‘corpos presentes’, como naquela missa que se celebra em prol
do falecido, que está no caixão, ali, e já não pode tomar notas…
A nota final de curso, qualquer que ela seja, vai depois acompanhar-nos a vida inteira. Se notável, escarrapachamo-la bem visível no currículo; se sofrível, apenas se escreve «completou com aproveitamento» o curso de serralheiro, de alfaiate, de Sociologia, de Engenharia Informática…
Após a formação,
as notas já têm significado diferente: quantas notas vou receber ao fim do mês?
Ou, se se adrega comprar casa, «quanta nota é que isso me vai custar?».
Detestamos
notas de culpa. Detestamos notas de multa, sobretudo se passadas à socapa.
Tenho em cada canto
da casa blocos de notas; sempre que me lembro de algo a fazer, corro a anotar. Quanto
às outras notas, as de euros, vamos tentando gastá-las como Deus é servido – e geri-las
o melhor possível, para o nosso bem-estar e o dos outros, que é para isso
(assim o entendemos) que essas notas têm valor!
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 319, 20-06-2023, p. 13.
E continuamos a dar importância às notas. Eu, por exemplo, gosto de ler estas Notas e Comentários, aprecio muito uma nota de humor nas conversas e nos textos.
ResponderEliminarUma nota de elegância numa roupa de mil e novecentos que um acessório modernizou, também é bem vista.
Depois as notas todas de que o texto se ocupa, jamais podem ser desconsideradas. Ainda fazem faltam ou, não fazendo, alinhámo-las nas prioridades da vida.
Mas há notas que nunca mais se esquecem, como a que tivemos que dar ao miúdo que não sabia NADA, mas que "era injusto reprovar", dizia a mãe, porque seria o único. Aos outros todos puxámos as orelhas às notas que (não) tinham.
E assim até aquele adolescente que trocou os tempos todos do verbo caber e escreveu o presente do indicativo eu cabrão, passou para o ano seguinte.
Não é um feito? Mais do que um feito, é uma nota que dura a vida inteira enquanto os neurónios funcionarem e a vontade de rir não se apagar.
Muito memória trouxe este texto das notas e eu já nem me lembrava das mais valiosas!