Um
hábito bem português este, que já vem de Gil Vicente e que diariamente vemos consubstanciado
nas anedotas que, por tudo e por nada, se inventam, a ridicularizarem, neste
momento, os alvos preferenciais: os ditos «governantes» europeus, esses tais
que, bem iludidos, pensam estar a governar – ou a governar-se.
Justifica-se,
pois, em pleno, a pergunta «Saltimbancos ou críticos ferozes?», quando, de pé, aplaudimos
a peça Os Saltimbancos, que o Teatro
Experimental tem em cena, desde 13 de
Novembro, de quinta a domingo, no Mirita Casimiro, até ao próximo domingo, 29, inclusive.
Uma
‘opereta cómica’ seria, porventura, a expressão adequado para qualificar esta
aparente brincadeira que o brasileiro Chico Buarque adaptou, em 1977, a partir de um disco de músicas infantis do
compositor argentino Luis Enríquez Bacalov. As músicas ficam no ouvido (Hugo
Neves Reis e Pedro F. Sousa encarregaram-se da orquestração e da direcção
musical). É contagiante a alegria da pequenada do ATL da Galiza, a contracenar
com actores consagrados do TEC (parabéns, Natasha Tchitcherova, pela exímia coreografia;
parabéns, Carlos Avilez, pela encenação e tão adequado ‘enquadramento’!). Pasmamos
(mais uma vez!) com a geométrica e minimalista eloquência da cenografia e dos figurinos
(um abraço, Fernando Alvarez!). Saímos contentes, mui agradados daqueles cerca
de 45 minutos em que o espectáculo no envolve e delicia! Aliás, apetece voltar!
Mas…
…
Miguel Graça, o responsável por esta versão e pela dramaturgia, põe bem o dedo
na ferida, na apresentação que, no programa, faz do espectáculo, ao mostrar
como logo Chico Buarque, então em pleno período de ditadura militar, emprestara
aos personagens um cunho bem específico:
«O
Jumento é um intelectual capaz de juntar os outros em seu redor, o Cachorro um militar
obediente, a Galinha uma operária e a Gata uma artista».
E
acrescenta:
«Hoje
não vivemos numa ditadura […]. Mas vivemos num país e numa Europa em que os
cidadãos são vistos como meio imediato para resolver uma crise financeira e económica
causada pela banca e pela especulação com o consentimento ou inépcia dos governantes».
E,
mais adiante:
«A
sociedade é democrática mas os deputados estão obrigados a uma disciplina de
voto; acreditamos no direito de escolha mas impomos limite de mandatos porque o
poder corrompe e o povo não tem capacidade de o perceber».
Cá
está! Naquela tradição espantosa do Feiticeiro
de Oz (aliás, este musical constitui uma adaptação do conto «Os músicos de
Bremen» dos Irmãos Grimm), do Principezinho
(de Saint-Exupéry) e, até, do D.
Quixote de Cervantes (porque não?), os
saltimbancos decidem sair da aldeia e rumar à cidade, na esperança de ali encontrarem
oportunidades melhores. Coitados!...
Verificam
– tarde de mais? – que seu sonho de vida não tem realidade possível, que na
cidade são bem outros os interesses e que não são minimamente o deles, que é o
de se dedicarem àquilo que sabem fazer – e não os deixam! Não hesitam, porém,
em proclamar bem alto: «Todos juntos somos fortes!». A proclamação que se impõe!
E, por isso, até gostaríamos que, finda esta primeira série de apresentações (termina
no domingo!), a peça fosse reposta – porque é urgente!
António Marques é o jumento
intelectual; Pedro Caeiro, o obediente cachorro: Teresa Côrte-Real, a
estapafúrdia galinha; Paula Sá, a gatinha sensual. Lá em cima, num mundo superior
(tinha que ser!), os patrões: Elsa Gama, Fernanda Neves, Jorge Vasconcelos,
Paulo B., Renato Pino, Salomé Duarte e Sérgio Silva. David Esteves, Filipe
Abreu, Gonçalo Romão e Raquel Oliveira brincam aos palhaços. E mencionem-se
também os nomes dos meninos do ATL que dão vida ao coro (e não só!): Adelina
Costa, Andreza Silva, Beatriz Esteves, Érica Silva, Iara Delgado, João Có,
Márcia Santos, Miriam Fura, Nalbertino Tigna, Selma
Filipe,
Suely Gonçalves e Tânia Cardoso.
Aplausos!
Publicado em Cyberjornal, edição de 2013-12-23:
Norma Musco Mendes (do Rio de Janeiro) escreveu:
ResponderEliminar«É muito lindo! Quem puder não deve perder!»