«Em 1946, João da Mata vivia com a fadista
Quinita Gomes e ela “deixou-o” e ele com desgosto escreveu a quadra:
Se
deixaste de ser minha
Não
deixei de ser quem era
Por
morrer uma andorinha
Não
acaba a Primavera.
O
seu colega e amigo Frederico de Brito depois de ele morrer juntou a essa quadra
mais quatro quadras que resultaram no fado “Por morrer uma andorinha”.»
Foi, por sinal, aquando da apresentação do primeiro livro de poemas
de Celestino Costa (A Minha Terra e Eu,
Cascais, 1992), que Alice Vieira nos chamou a atenção para essa metamorfose do
que é verso ou frase lapidar de autor: dada a sua oportunidade e quotidiana evidência,
entranha-se no sentir popular e, a determinada altura, já não se sabe de quem
é. Exemplificou-o, nesse 6 de Julho de 1992, com a conhecidíssima quadra «Ó
minha mãe, minha mãe / Ó minha mãe, minha amada / Quem tem uma mãe tem tudo /
Quem não tem mãe não tem nada» – que se pensa «popular» e é de Afonso Lopes Vieira.
De Celestino Costa eu gostaria
que também se ‘entranhasse’ esta passagem do seu poema «Pátria querida»,
inserto nesse livro (p. 79), e se consciencializasse bem o seu profundo
significado, num momento em que são os poetas que mais sentem e veiculam as mui
desencontradas angústias que nos vão na alma e nos apeteceria gritar na praça
pública:
«Prós
poetas, Pátria querida,
És
madrasta toda a vida,
Só
és mãe depois da morte!...».
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 627, 01-12-2013,
p. 12.
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