Não
é bem esse o caso da palavra ‘estrebuchar’. Se, para um adulto, assume
dominantemente um sentido de trejeito doloroso, quer aplicado às pessoas quer
ao animal em sofrimento, no mundo infantil «que é que estás praí a
estrebuchar?» constitui, de um modo geral, pergunta irónica, a trazer implícita
a ideia de que a criança está a dar
voltas e mais voltas a um brinquedo ou um objecto, vira-o e revira-o e não
encontra saída airosa para o concertar ou… desconcertar.
Sugere-se
nalguns dicionários que a palavra veio do francês «trébucher», que significa
‘vacilar’, ‘hesitar’. É possível, mormente se o enquadrarmos não nesse aspecto
de «mexer violentamente pernas e braços», mas de preferência nesse estrebuchar
da criança em… não saber como há-de resolver uma situação
concreta. E, à primeira vista, ligá-la também ao termo ‘bucho’ até nem parecerá
despropositado de todo, se pensarmos que, muitas vezes, nos sentimos
incomodados quando, por exemplo, a comida nos dá a volta ao estômago e não
sabemos bem o que se lhe há-de fazer. Estrebuchamos!...
Mas…
voltando à malícia inocente: quem não se lembra de, em pequenino, alguém se
voltar para nós e dizer, num sorriso malandro: «Com que então a vender vinagre,
hein!»? Esquecêramo-nos, simplesmente, de apertar alguns botões em sítio onde esse
esquecimento poderia vir a ser… fatal!
Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 181, Fevereiro de 2014, p. 10.
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