«Professor»,
respondeu-me a Catarina, pouco tempo depois, «desculpe, mas a tecla do g do meu
computador já não funciona, o s também não, é um computador muito velhinho!»…
Pus
a mão na consciência. A repreensão estava dada, não me arrependia, mas, claro,
respondi que, assim, as falhas estavam desculpadas. Contudo, dei comigo a
pensar, mais uma vez, no que é o mundo actual, este, por exemplo, que os
anúncios televisivos nos apresentam com smartphones e outras palavras
estranhas para a maioria do público. Qual interactividade, qual acesso rápido à
Internet, qual intervenção ‘em tempo real’!?... Para quem?
Sim,
o meu neto de cinco anos ou a minha neta de sete ‘dão-me cartas’ a mexer nos
telemóveis, mas… quem há aí que tenha disponibilidade para aceder rapidamente,
por exemplo, à página de um Município, para ver a programação cultural ou,
simplesmente, para aceder às actas da reunião do Executivo da semana passada?
Estarão, aliás, bem acessíveis nessa página, onde vem tudo e mais alguma coisa,
menos – habitualmente – aquilo que a gente precisa de saber?
Recebo
de algumas Câmaras o respectivo Boletim Municipal em papel. E lá vem, normalmente
em páginas destacáveis, a síntese das deliberações tomadas nas últimas reuniões.
Quantas Câmaras o fazem? E não é essa uma determinação legal? Como se quer uma
«democracia participativa» (expressão que enche a boca…), se à população se não
fornecem de forma ágil os resultados da governação?
E
quem diz Câmaras diz instituições. Ainda outro dia, o António disse a um amigo:
«Olha, vou fazer uma conferência aí, se quiseres aparecer…». E o amigo de nada
sabia, porque… o anúncio da conferência estava… na página da associação promotora!
Mas quem diria que era preciso ir lá ver?
Vivem
os governos europeus nesse paradigma dos dois mundos: o real e o virtual,
convencidos de que todos os ‘súbditos’ (sim, somos ‘súbditos’, deixámos de ser
‘cidadãos’…) estão endinheirados. Aliás, não temos todos nós montes de euros
para dar de comer ao automóvel topo de gama com que nos vão obsequiar?!...
Publicado em Renascimento (quinzenário de Mangualde), nº 633, 15-02-2014, p. 11.
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