«Licenciados
em diversas engenharias apostam nas fileiras do abacate, mel, frutos vermelhos,
citrinos, diospiros e floricultura. Deu-se uma viragem na agricultura no
Algarve. Cerca de 500 jovens, nos últimos sete anos instalaram-se no meio
agrícola. A nova geração de jovens
agricultores é mais dinâmica e tem facilidade em aceder a apoios comunitários».
Este,
o elogio; esta, a esperança; este, mui provavelmente, o futuro.
E
recordo, obviamente, como os agrónomos e os poetas latinos se não esqueceram,
em tempo de dificuldades, de chamar a atenção
para este necessário ‘regresso à terra’, a terra-mãe, que pode retribuir 100
por 1 e dar de comer e produzir riqueza. Assim deveria ser.
‒
Tenho uma nogueira enorme. Carregada!
Não lhe dou vazão nem a apanhar as nozes nem, depois, a consumi-las. Pus a
hipótese de as vender no lugar da aldeia. Não posso. Tenho de me colectar nas
Finanças como produtor, tenho de passar guia, factura, recibo. A senhora do
lugar tem de ter tudo isso à mão, não vá aparecer um fiscal e… adeus
aproveitamento das nozes! Por isso, deixo-as na árvore. Apodrecem que é um dó
d’alma. De pouco me serve a nogueira .
A não ser para ter dores de cabeça, quando penso nisso e no que por esse País
deve acontecer de igual…
E
vimos, nos primeiros dias de Fevereiro, como os pequenos agricultores se
queixaram, pelo interior do País. Uma agricultura de pouco mais do que de
subsistência, para consumo familiar e para, com os parcos excedentes, se fazer
algum dinheiro que complemente pensões barbaramente amputadas.
‒
Mas, menino, isso é economia paralela! É fuga ao fisco! É não querer contribuir
para o bem-estar geral! Não estás a ser patriota.
Não,
não estou. Sei que visceralmente não estou. Nem quero estar, porque fuga ao
fisco não é esta que nos mata, mas as dos milhões de que todos os dias temos
conhecimento. E com essas ou se gastam mais uns milhões em longos processos ju diciais que não levam a sítio nenhum ou,
estrategicamente, se deixam prescrever. O pequenino, a senhora do lugar em
frente da casa do meu amigo, não tem muito por onde fugir e facilmente se
agarra. E esta é a elegia para uma agricultura maldita!
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 634, 01-03-2014, p. 11.
Antonio Alberto Andrade escreveu:
ResponderEliminar"A perspicácia no comentário, Professor. Vivemos num País, como V. Excelência tão bem sabe, governado nos últimos 40 anos por uma corja de aves de rapina, sedentas de sangue, que só me ocorre comparar aos piores anos do Estado Novo."
Margarida Sobral Neto comentou:
ResponderEliminar"Uma situação perfeitamente Kafkiana que lesa muitas pessoas do mundo rural que complementavam magras reformas com a venda de uns sacos de nozes ou de castanhas. Bem hajas pela chamada de atenção."
- Sou eu, Margarida, que te agradeço o comentário de apoio!
Leonor Casaleiro:
ResponderEliminarObservação perspicaz e, como sempre, cheia de verdade e astúcia.
Observação atenta do assalto governamental e estatal a quem trabalha! Conheci alguma coisa do antes de 74 e digo-vos: estes governantes são bem piores, não por serem incompetentes como são, mas por serem ladrões e corruptos!
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