A Inês encontrou finalmente o rolo que precisava.
Trazia outro na mão, mas não era o que pretendia.
–
Sabe, minha senhora, onde poderei encontrar um rolo?… – E explicou as
características do que procurava à empregada do supermercado. Afinal, estava
mesmo ali. Óptimo!
–
Desculpe, eu trazia este. Posso deixar aqui?
–
Poder, pode! Mas depois eu tenho de o ir arrumar!....
–
Ah! Pois é, desculpe, deixe estar que eu vou, não se incomode!
As
pausas aumentam a produtividade!
Deu conta o jornal I, na sua edição
do dia 25 de Fevereiro, das conclusões a que chegara Alexandra
Pereira, na tese de mestrado defendida no Instituto de Psicologia Aplicada da
Universidade Europeia:
«Os
minutos ‘despendidos’ a fumar um cigarro, a beber um café com os colegas ou,
simplesmente, a trocar dois dedos de conversa, contribuem para aumentar a
produtividade dos trabalhadores».
Essas
pausas, continua a nota, «aju dam
a combater a fadiga ou o bloqueio mental, a descomprimir, e – o mais importante!
– a aumentar a energia e a produtividade do trabalhador».
Uma tese em Ciências Humanas, claro!
Daquelas que são malditas pela ‘inteligência’ dos governantes e, ao que se
sabe, até pela dos mui dignos gestores de entidades como a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pois, para eles, Ciência
e Tecnologia pouquíssimo têm a ver com ‘isso’ das Ciências Humanas, das
psicologias, das sociologias e disparates afins...
Não antevejo, pois, futuro risonho
para Alexandra Pereira, dado que rema contra a maré.
Mas, em todo o caso, fique a saber,
menina, que tem todo o meu apoio. Que também eu sou dessa opinião e clamo
contra os estúpidos princípios economicistas que ditaram a supressão dos
feriados; que aboliram a recompensa em dias de férias para quem não faltasse ao
trabalho durante o ano; que aumentaram o horário de trabalho diário. Estou
contra, como muita gente está, porque se parte de um pressuposto errado: «Quanto
mais horas de trabalho, maior é a rendibilidade». Pois. Se tivessem estudado
Psicologia e não pelo estreito Manual do Economicista, saberiam que o
rendimento do trabalho é proporcional à motivação ,
ao empenho pessoal, ao gosto pelo que se está a fazer, sem olhar para o relógio
e pensar que faltam 29 minutos e meio para eu me pôr a milhas daqui!... A
senhora, empregada da grande superfície, com quem a Inês falou e a quem não apatecia
ter de ir pôr o rolo no lugar, estava, certamente, a contar os minutos que faltavam
para sair e não o tempo em que ainda ali poderia estar a ser útil a si e aos
demais, olhando para a vida com serenidade e boa disposição .
Se calhar, um dia destes, é capaz de querer ter um rolo para arrumar e… será
tarde de mais!
Gostaria eu que não fosse tarde de
mais para os que pensam estar a governar os países europeus pararem um pouco em
reflexão e olharem, com olhos de ver, para o mundo concreto que os rodeia, não
para aquele que imaginam. Homens, mulheres não são máquinas! Para as máquinas
serve a Ciência e a Tecnologia; para as pessoas, servem outras ciências,
aquelas que conhecem o valor de um sorriso, de uma palavra dita no momento
certo.
A Noémia passou o semestre a faltar.
Veio duas vezes às aulas, para fazer os testes. Umas olheiras!... Aluna do turno
da noite. Reprovou por faltas à avaliação
contínua. O exame da 1ª época, um desastre! O professor não se deu por vencido
– porque, ele, tinha estudado não apenas a Ciência que estava a leccionar, mas
Psicopedagógicas também (saberão os ‘mandantes’ o que isso é?!...). Insistiu
com a Noémia em dois e-mails:
‒
Fazes favor, apareces-me na 2ª época! Quero-te lá!
Apareceu. Banhada em lágrimas. Uma
pilha de nervos, porque mais um drama sentimental e familiar sobre ela desabara
nessa tarde. Estavam dois professores no corredor. Olharam-na nos olhos. E
disseram-lhe que deitasse tudo para trás das costa s.
O que importava agora era o teste que ia fazer. Ela era capaz! O docente deixou
passar algum tempo, contou uma anedota, distendeu o ambiente. E a Noémia, a que
só faltava essa cadeira do semestre, passara a todas as outras, obteve, sem
favor, 14 valores. O professor reju bilou . Noémia ganhou nova alma. Tenho a certeza de
que, mesmo que, já licenciada, comece a vida de trabalho como simples empregada
de supermercado, nunca dirá «pois lá terei eu de o ir arrumar e foi a senhora
que o tirou do sítio»!...
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 35, 05-03-2014, p. 6.
Sem comentários:
Enviar um comentário