Admiro,
aliás, as suas constantes e desassombradas tomadas de posição , mesmo quando opostas à política levada a cabo
por membros do partido a que pertence. Aí reside o seu carisma e a atenção que todos os sectores acabam por lhe prestar: essas
afirmações resultam da experiência e, sobretudo, de aturada reflexão sobre a realidade
e sobre o Homem. Dizer que Bagão Félix é um humanista de corpo inteiro não constituirá
surpresa para ninguém e o facto de, em funções governativas, ter sobraçado, por
exemplo, a pasta da Segurança Social determinou muito do que nesse artigo
deixou exarado, para meditação .
«Ser
ancião», escreve, significa «a idade em que, na pessoa humana, o ser assume, em definitivo, primazia sobre
o ter e o tão-só estar».
E,
embora preconize que se não deve «alimentar uma perspectiva pessimista sobre o
futuro da velhice», não deixa de criticamente atribuir a esta «economia sem
rosto», a este dominante «individualismo exacerbado» «a solidão, a perda de
autonomia, o enfraquecimento relacional» de que ora o mundo padece e que, na
velhice, mais cruelmente são realidade.
Tantos
são os recursos de que «os mais velhos dispõem» e que mui gostosamente querem
partilhar, numa vida que se pauta «entre o património da memória e a esperança
da eternidade»! – frase lapidar de suma beleza e de enorme profundidade!
Não
pode haver, por isso, «o eclipse dos avós no acompanhamento educativo dos netos»:
é absurdo privar uns e outros daquela «cumplicidade afectiva» que torna mais
risonhas as alvoradas e mais serenas as noites de cada um!...
Testemunho,
sabedoria, ternura, partilha – alguns dos recursos a bem aproveitar!… Bagão
Félix toca fundo nas chagas do nosso quotidiano – para que cicatrizem e outras não
venham a aparecer!
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 632, 01-02-2014, p. 11.
Alice Alves:
ResponderEliminar"Não pode haver, por isso, «o eclipse dos avós no acompanhamento educativo dos netos»: é absurdo privar uns e outros daquela «cumplicidade afectiva» que torna mais risonhas as alvoradas e mais serenas as noites de cada um!..."
«Envelhecimento e solidariedade»
ResponderEliminar‒ a ilustração de Nuno Quaresma
Profunda a forma como Nuno Quaresma ilustrou, em pinceladas fortes, o artigo de Bagão Félix no Boletim Salesiano nº 542.
Qual Padre Eterno de Miguel Ângelo no tecto da Capela Sistina, secundado pela corte celestial, é Deus quem agarra – a custo! – a mão do velhote triste. A mulher fia, como na juventude aprendeu. Por detrás, a bancada está vazia: não há ninguém pra ver a salvação in extremis nem, sobretudo, o homem de negro que voa a quase 290 km/h, super-homem de banda desenhada, mala recheada de notas. A sua mão voraz, de gigante, em contraste com a suavidade da mão divina!... Desgrenhada, entre ele e os velhos, a Mulher, diante de um computador de sangrenta espiral no ecrã. E, bem visível, a saca do dinheiro, a seu lado.
Ninguém parece ver! Mas eles olham para nós!
Publicado em Boletim Informativo [Província Portuguesa da Sociedade Salesiana, Lisboa] nº 312, Fev/Mar 2014 p. 27.