Esforço
vão, hoje ainda mais reconhecido como tal, quando a língua inglesa (a de
Inglaterra, entenda-se…) se impõe como língua oficial a todos os níveis. Alguém me explicava a razão:
«Hay que reconocer que el inglés es la lengua más concisa ‒
y pobre en vocabulario ‒ que existe, no me extraña que se haya acabado por
imponer».
Aí está o segredo: concisa e pobre – há que adoptá-la,
porque não estamos em maré de nos sacrificarmos a estudar declinações (como é o
caso do estranho Alemão) ou a decifrar as ‘garatujas’ (que me perdoem árabes e
orientais!...) da língua árabe ou do mandarim.
Falemos, pois, uma língua concisa e pobre
– e deitemos às urtigas as terminologias em que cada povo se aprimorou ao longo
de séculos! Quer-se lá saber que há a possibilidade de lhe chamar «boletim informativo»,
«informação », novidades», «novas»,
«notícias», «mensário», «hebdomadário»!... Pranta-se newsletter e… já está! Que é isso de «desdobrável», «folheto» ou
«folha volante»? Que ‘coisa’ mais rara!...Vai flyer – e pronto! «Flyer», aquilo que voa, que vai de mão em mão
como as ‘pombinhas da Catrina’, mas… flyer!
Tem a língua portuguesa, comemoraram-se outro dia, 800
anos. Engalanou-se em arco. Calma: engalanaram em arco alguns, esses
dinossauros retrógrados que ainda pensam que é necessário ter memória, ter
história, ter raízes. Qual quê! Raízes?!... Isso não é uma ‘coisa’ que serve
para as plantas se alimentarem e se aguentarem de pé? É, não é? Pois que tenham
raízes as plantas, que um Povo delas não carece!...
Como é? Músculo esternotireóideo?
Que raio de língua esta que tem nomes para tudo, todas as dores, todas as
mezinhas, todos os estados de alma e até a saudade!... Uma língua para ser
falada e propalada? Nem por sombras! Dá trabalho à beça!
Publicado
em Renascimento
(Mangualde), nº 646, 15-09-2014,
p. 11.
Jose Fernandes Soares comentou: "Meu caro prof. Não concordo com o juízo em castelhano que afirma que o inglês é a língua mais concisa que existe, e concordo ainda menos que seja uma língua pobre em vocabulário. Sobre a concisão do inglês nada digo, porque nada se diz sobre o significado do termo. Quanto à pobreza de vocabulário deste idioma, uma simples ronda na net mostra que o inglês tem cerca do dobro de palavras do castelhano (e do português), assumindo que as formas dos verbos não são contadas como palavras separadas. Os grandes dicionários de inglês de nível universitário incluem normalmente cerca de 200000 palavras, ao passo que os dicionários comparáveis de castelhano têm geralmente apenas cerca de 100000. É claro que muitas dessas palavras raramente são utilizadas. As estimativas que tenho visto indicam que os americanos utilizam normalmente um vocabulário falado de cerca de 20000 palavras, muito embora num dia normal utilizem uma quantidade muito menor. Não consegui encontrar estimativas fidedignas sobre o vocabulário quotidiano dos falantes de castelhano, mas estou convencido que o número de palavras que um falante culto de castelhano utiliza em cada dia é semelhante ao utilizado por um falante de inglês. Em qualquer idioma, é possível comunicar razoavelmente utilizando menos de 1000 palavras. No meu entender, uma das razões do Inglês possuir um vocabulário maior é porque esta língua é essencialmente a soma de duas línguas, o saxão e o latim. O latim não substituiu a língua original - somou-se-lhe. Existe quase sempre um termo saxão e um termo latino para significar o mesmo. Por exemplo, freedom e liberty; going on e continue; late e tardy, etc. (o Castelhano tem apenas tarde, pelo menos como advérbio). O latim tem uma influência tão grande que às vezes o Inglês parece mais francês do que dinamarquês, outra língua germânica. O árabe tem uma influência muito menor no castelhano do que o latim no inglês. No entanto, o menor número de palavras em castelhano não significa que este idioma não possa ser tão expressivo como o Inglês; às vezes ainda é mais. Mais termos não significa pois necessariamente mais riqueza e menos mais pobreza. A língua vale pela sua capacidade epistémica, isto é, pela capacidade de codificar os fenómenos do mundo em conceitos. Ou, como dizia Wittgenstein, um filósofo que alegava que a perceção cognitiva de um individuo depende da língua em que se expressa: «os limites da minha língua significam os limites do meu mundo» (Wittgenstein, 1922: paragrafo 5.6, p.48 Tratactus Logico-Philosophicus em http://books.google.pt/books?id=r26n1wq3kwAC&printsec=frontcover&dq=about+what+one+cannot+speak,+one+must+remain+silent&hl=en&sa=X&ei=vjFsUfCOMLPA7Aax64HoAw&ved=0CC0Q6AEwAA#v=onepage&q=The%20limits%20of%20my%20language%20mean%20the%20limits%20of%20my%20world&f=false. Quer dizer, a perceção de uma pessoa sobre as coisas do mundo só pode ser avaliada formalmente se essa pessoa conseguir expressar essas coisas em palavras, não existindo de todo se não puderem ser expressas desta maneira: «o que não podemos exprimir, devemos ignorar em silêncio» (Wittgenstein, 1922: parágrafo 7)». Em suma «o sujeito não pertence ao mundo, mas é um limite do mundo» (Wittgenstein, 1922: parágrafo 5.632). Um grande abraço. Jose F. Soares"
ResponderEliminarAgradeço ao Amigo J. F. Soares as judiciosas observações. Certamente quando se afirma ser o inglês uma língua fácil a ideia central é a da gramática: formas verbais nada complexas em relação à generalidade das línguas românicas; facilidade nos plurais e singulares; uso da preposição para dar ao verbo um significado que, noutra língua, tem palavra bem diferente (exemplo: go in, go out, go up...); o costume de facilmente se obterem palavras por justaposição. E não quanto ao número de vocábulos de uso mais ou menos corrente. No que se prende com os conceitos filosóficos que aduzes, aí, Amigo, eu sou incapaz de seguir-te, porque, para mim, a filosofia tem sido a da vida. Bem hajas!
EliminarJose Fernandes Soares comentou: "Caro prof. Concordo inteiramente com o seu comentário ao meu comentário: o inglês é uma língua muito simples em termos gramaticais - é uma língua extremamente eficiente em termos de economia da fala e da escrita. Daí, talvez, a sua adoção como veículo internacional de comunicação científica. Todavia, isto não faz dela uma língua menos expressiva do ponto de vista da comunicação de emoções. Pelo menos, a ver com o número de Prémios Nobel da Literatura conquistados. Ao contrário do que insinua, o meu amigo tem uma vida de filosofia. Um grande abraço."
ResponderEliminarTalvez, antes, uma filosofia de vida! E quanto à língua inglesa veículo de emoções, perfeitamente de acordo: a expressão «I love» topa-se a cada esquina e proclama-se a todo o momento. E não é agora o facebook (vocábulo inglês!...) o repositório maior das emoções quotidianas?!... Abraço, grato, retribuído!
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