José
António Proença, respons ável pelo
museu, organizou-a em três núcleos: «Um caderno de inéditos de Columbano
Bordalo Pinheiro», «Olhares sobre Cascais» e «Os banhos e a faina piscatória».
Reuniram-se, para o efeito, obras de Alfredo Roque Gameiro, Carlos Bonvalot,
Columbano Bordalo Pinheiro, D. Carlos de Bragança (el-rei D. Carlos), Enrique
Casanova, João Vaz, Miguel Ângelo Lupi, Sousa Pinto e Visconde de Atouguia. Boa
parte delas reproduzidas e bem identificadas no catálogo.
Bonvalot
foi, sem dúvida, o artista mais representado; aliás, de tempos a tempos se
recorda, em exposições, a obra valiosa deste pintor, que, natural de Paço de
Arcos, viveu em Cascais e na vila viria a falecer em 1934 (por exemplo, nesse
mesmo museu, de 17-11-2009 a
21-03- 2010, Cascais de Carlos Bonvalot).Também
as aguarelas de el-rei D. Carlos são conhecidas e o Museu do Mar faz jus à sua
memória. Não será, pois, estranho que se realce e aplauda a ideia de apresentar
agora, como novidade, o caderno de bem graciosos desenhos inéditos de Columbano,
feitos em Cascais na última quinzena de Setembro de 1919 (recorde-se que o
Outono era – e é! – a estação de
excelência, aqui!). Sugestivos apontamentos gráficos, a denunciarem, em traço
quase despretensioso, um estado de alma, um gesto, um significativo instantâneo…
No
chuvoso final da tarde de quinta-feira, 18, a Doutora Raquel Henrique s
da Silva realçou, perante uma trintena de atentos ouvintes, a importância dos
autores representados na mostra (em cuja concretização
colaborara), salientando os aspectos mais importantes do conjunto.
Uma sugestão
A conferência fora
anunciada como «Cascais através da pintura» e, por isso, após ter ouvido a historiadora
de Arte, não deixei de pensar que, dos 600 para os 650 anos, Cascais foi também
alfobre de artistas e fonte de inspiração .
E, se calhar, uma outra exposição –
ou iniciativa – que recorde as artes em Cascais na segunda metade do século XX
é capaz de não ser despicienda.
Tempos
áureos foram os anos 60, por exemplo, com a galeria da Junta de Turismo da
Costa do Sol no seu auge, galeria por onde passaram, seguramente, reconhecidos
nomes das artes plásticas portuguesas, sempre com o incondicional apoio de
Serra e Moura: Sarah Afonso, Michael Barrett, Mário Silva... E, nessa altura,
havia salões (da Primavera, do Outono…), em que os temas Cascais e Costa do Sol
eram obrigatórios e o espólio artístico do organismo que sucedeu à Junta – se é
que não desapareceu ou jaz guardado numa qualquer arrecadação … – será, nesse aspecto, deveras relevante. Recorde-se
que, mesmo após o 25 de Abril, a galeria da Junta se notabilizou, nomeadamente
ao tempo de Cruzeiro Seixas, que ali trouxe, entre muitos outros, Mário-Henrique Leiria, em Agosto de 1978. Sempre continuará
a lamentar-se que os respons áveis, a
partir de certa altura, tenham considerado as Artes Plásticas como algo de
somenos.
Basta
folhear o boletim Cascais e os Seus Lugares
e a imprensa local dos anos 60 para verificar que, semanalmente, Adelaide
Félix, por exemplo, mantinha no Jornal da
Costa do Sol a rubrica «Exposições de Arte e sua recensão», que nunca se deixou
esmorecer. E há que lembrar a acção espantosamente
inovadora do escultor Óscar Guimarães ao pensar, como presidente, em transformar
o rés-do-chão do novo edifício da Junta de Freguesia de Cascais, na Galeria JF,
que também acolheu uma plêiade de artistas. Hoje continua, mas sem o fulgor mediático
de outrora, seguida de perto pelo espaço que foi da Junta de Freguesia do Estoril,
também ele com um programa continuado de exposições da mais variada índole.
Fenecida
a vertente artística da sucedânea da Junta de Turismo, coube a Lima de
Carvalho, na esteira do que nas Arcadas se fizera, retomar na galeria do Casino
– também ela, inclusive, por imperativos da concessão, um lugar obrigatório
para a Arte em Cascais – a ideia dos salões, em que também a temática local,
mormente nos da chamada pintura naïve,
era de inspiração obrigatória.
Galerias,
de resto, nunca faltaram em Cascais. Para além do espaço do posto de turismo da
Rua Visconde da Luz, a Musical de Cascais teve programação
intensa e continuada na 2ª metade da década de 90. Hoje, são os museus (o
Centro Cultural, a Casa das Histórias, a Casa de Santa Maria, o Museu da Música
Portuguesa…) que concitam mais a atenção .
Sirva,
pois, este fugaz relancear para, quiçá, encontrar eco: a Cascais nas Artes
Plásticas da 2ª metade do séc. XX merece ser recordada!
Publicado em Cyberjornal, edição de 20-09-2014:
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