domingo, 21 de setembro de 2014

Memórias que são História... aqui!

             Constituiu um êxito o livro Memórias das Terras de Alportel, de Manuel Guerreiro, recolha do que, ao longo dos meses, foi publicando no Noticias de S. Braz.
            Nascido em 1937, Manuel Guerreiro houve por bem dar conta do que recordava da sua meninice e infância: os sítios, as pessoas, os costumes… Perpassam, pois, pelas páginas do seu livro – como haviam perpassado já (e continuam a perpassar) nos apontamentos que no jornal vai deixando – memórias que, afinal, são história.
            Sei que se reivindica a necessidade de passarem gerações antes de os factos poderem ser relatados como ‘históricos’. Hoje, porém, na velocidade a que se vive e na vertiginosa alteração de hábitos e modos de agir – e nem é preciso explicar porquê!... –, não perfilho essa opinião e muito me regozijo por Noticias de S. Braz continuar a ser fiel repositório de memórias. Não apenas as que os seus habituais ‘poetas’ reflectem – e quantas vezes não são eles os únicos a verberar as maldades que nos vão fazendo!?... –, mas, de modo muito especial, as que vários dos seus colaboradores não hesitam em publicar. Fazer história sem ter lido com atenção a imprensa local e regional é bem rematada loucura!
            Veja-se, a título de exemplo, a edição de Agosto.
            Vítor Barros, naquele seu jeito de ficcionar a realidade e por ela nos seduzir, que soberbo retrato quotidiano nos deixou, a propósito de singelos bagos de romã!... (p. 4). J. P. da Cruz, com a sua «bolsinha de moedas», fez-nos recuar «há bem umas sete dezenas de anos atrás» (p. 5). Maria Eduarda A. Santos já vai no seu 9º rebuscar no baú das memórias, uma delícia! (p. 6). Na p. 19, João Romero Chagas Aleixo deu a conhecer elucidativa carta sobre o poeta Aleixo.
            É, também por isso, deveras significativo o depoimento de José Mendes Bota, na p. 27, a anunciar que o jornal algarvio a Avezinha, obra heróica de Arménio Aleluia Martins, morreu ao festejar o seu 93º aniversário, no passado 17 de Julho. Ironiza Mendes Bota:
            «Autarcas poderosos ocupam página inteira a parabenizar o jornal pela passagem do seu 93º aniversário e vaticinam longa vida a um pássaro à beira do último suspiro», acrescentando: «Nesta agonia derradeira, não há uma linha de publicidade institucional, aquele oxigénio que poderia ter permitido um voo mais longo. São coisas da vida».
            Arménio Martins, explica Mendes Bota, «um dos mais intrépidos defensores da alma, dos valores e do património da Região do Algarve, aquém e além fronteiras».
            Essa, a ingente – e cada vez menos compreendida – missão da imprensa local. «O digital é efémero», afirma ainda Mendes Bota – e eu concordo com ele.
            É de muito louvar promover um encontro sobre tradições e memórias; mas, se elas não ficarem escritas, depressa nossas raízes secarão!...

Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 214, 20-09-2014, p. 21.

 

           

             

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