Nascido em 1937,
Manuel Guerreiro houve por bem dar conta do que recordava da sua meninice e infância: os sítios, as pessoas, os costumes…
Perpassam, pois, pelas páginas do seu livro – como haviam perpassado já (e
continuam a perpassar) nos apontamentos que no jornal vai deixando – memórias
que, afinal, são história.
Sei
que se reivindica a necessidade de passarem gerações antes de os factos poderem
ser relatados como ‘históricos’. Hoje, porém, na velocidade a que se vive e na vertiginosa
alteração de hábitos e modos de agir
– e nem é preciso explicar porquê!... –, não perfilho essa opinião e muito me regozijo
por Noticias de S. Braz continuar a
ser fiel repositório de memórias. Não apenas as que os seus habituais ‘poetas’
reflectem – e quantas vezes não são eles os únicos a verberar as maldades que nos vão fazendo!?... –, mas,
de modo muito especial, as que vários dos seus colaboradores não hesitam em
publicar. Fazer história sem ter lido com atenção
a imprensa local e regional é bem rematada loucura!
Veja-se,
a título de exemplo, a edição de
Agosto.
Vítor
Barros, naquele seu jeito de ficcionar a realidade e por ela nos seduzir, que soberbo
retrato quotidiano nos deixou, a propósito de singelos bagos de romã!... (p.
4). J. P. da Cruz, com a sua «bolsinha de moedas», fez-nos recuar «há bem umas
sete dezenas de anos atrás» (p. 5). Maria Eduarda A. Santos já vai no seu 9º
rebuscar no baú das memórias, uma delícia! (p. 6). Na p. 19, João Romero Chagas
Aleixo deu a conhecer elucidativa carta sobre o poeta Aleixo.
É,
também por isso, deveras significativo o depoimento de José Mendes Bota, na p. 27, a anunciar que o jornal
algarvio a Avezinha, obra heróica de
Arménio Aleluia Martins , morreu ao festejar
o seu 93º aniversário, no passado 17 de Julho. Ironiza Mendes Bota:
«Autarcas
poderosos ocupam página inteira a parabenizar o jornal pela passagem do seu 93º
aniversário e vaticinam longa vida a um pássaro à beira do último suspiro», acrescentando:
«Nesta agonia derradeira, não há uma linha de publicidade institucional, aquele
oxigénio que poderia ter permitido um voo mais longo. São coisas da vida».
Arménio
Martins , explica Mendes Bota, «um
dos mais intrépidos defensores da alma, dos valores e do património da Região
do Algarve, aquém e além fronteiras».
Essa,
a ingente – e cada vez menos compreendida – missão da imprensa local. «O
digital é efémero», afirma ainda Mendes Bota – e eu concordo com ele.
É
de muito louvar promover um encontro sobre tradições e memórias; mas, se elas
não ficarem escritas, depressa nossas raízes secarão!...
Publicado em Notícias de
S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 214, 20-09-2014, p. 21.
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