Estava,
de facto, um dia magnifico e o palácio vive, sem dúvida, do seu ímpar recheio e
da invulgar majestade da sua construção altaneira, mas, de modo bem especial,
do seu enquadramento.
Bem
andou o rei D. Fernando II quando, em 1838, resolveu adquirir o vetusto e então
devoluto convento dos Monges Jerónimos de Nossa Senhora da Pena, mandado erguer
no topo da serra por um dos seus antecessores, el-rei Manuel I, em 1511. Recuperou-o
em parte e, por volta de 1843, encarregou o arquitecto alemão Barão de Eschwege
de proceder às ampliações que elevaram o edifício às proporções que hoje
ostenta e nos maravilham. De resto, o facto de, aquando das obras de restauro
levadas a efeito em 1994, se ter verificado que eram o rosa-velho e o ocre as
cores originais, a opção foi a de essas cores se reporem, o que veio acrescentar
relevo à já de per si fantasmagoria do conjunto.
Bem
andou o rei D. Fernando II em dar asas ao sonho. Encastraram-se as paredes nas
concavidades das rochas, como que a desafiar as poderosas muralhas do Castelo
dos Mouros, vigilantes na colina fronteiriça.
Dir-se-ia
que, ali, o tempo era outro, digno de ser saboreado longe das intrigas da
Corte, alheio às cumplicidades da governação. Ali, o importante era viver, em contacto
com a Natureza: o parque repleto dos verdes mais exóticos, ao mar ao fundo e,
até, o Tejo e a Arrábida a perder de vista…
Passeamo-nos
devagar pelos corredores. Aqui, um quarto de dormir; mais além, a grande sala
de lustres pendentes, cenário ideal para mui pomposa recepção… Imaginamos o que
seria a vida, então, por entre aquelas paredes, que beijos, que olhares, que
preocupações também… Como, ao atentarmos nas expressões dos visitantes de
agora, nos apeteceria adivinhar que sentimentos todo o cenário desperta, por
exemplo, neste magote de japoneses, tão longe dos seus estão os modelos
artísticos aqui patentes, a vida de que quotidianamente estes interiores foram
palco e testemunhas.
A
pausa na esplanada, as fotografias («Só mais este ângulo!...») constituem final
imprescindível antes da hesitação da partida: retoma-se o pequeno autocarro ou
desce-se a pé para melhor saborear a paisagem?
Sempre
novo, sempre recheado de surpresas este Palácio da Pena!
José d’Encarnação
O palácio visto da Quinta da Regaleira |
A entrar para o palácio |
Claustro interior |
A sinfonia das cores... |
Uma cozinha bem apetrechada |
A esplanada |
A vista a alongar-se pelos verdes até ao mar, com o Guincho ao fundo... |
Publicado em Cyberjornal, edição de 2015-07-28:
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