Será seguramente uma história a
contar, no quadro da economia cascalense. Uma vista de olhos pela imprensa
local dos anos 60 e seguintes dará, sem dúvida, uma panorâmica exacta do que foi
a luta dos comerciantes cascalenses, numa época em que o aparecimento ou a
previsão de virem a aparecer as chamadas «grandes superfícies» ameaçavam pôr em
causa negócios que, até aí, se situavam predominantemente ao nível familiar.
Primeiro, foi o Pão de Açúcar (hoje,
Jumbo, do grupo Auchan), que veio instalar-se mesmo no coração da vila, dir-se-ia, e que, por isso mesmo, na
medida em que iria comprar por atacado e, logicamente, a menor custo, acabaria
por alicia r a clientela, com os
apregoados preços baixos. Já nessa altura os diversos padeiros do concelho se
haviam juntado na União Panificadora de Cascais e construído, em Alvide, uma fábrica
que visava satisfazer todas as necessidades da população
em termos de abastec imento.
Praticamente todas as pequenas padarias encerraram, para unir esforços, ou as
que se mantiveram – como foi o caso da chamada do «Paulino »,
na Rua Afonso Sanches – começaram a ter funções complementares à fábrica de
Alvide.
O
exemplo tanto da Panificadora como a apregoada circunstância de uma grande
superfície poder comprar por atacado levaram os principais comerciantes da vila
a encetar negociações no sentido de se reunirem numa cooperativa que lhes
permitisse minora r os efeitos
seguramente deletérios dessa concorrência que não tinham podido evitar.
Recorde-se que, anos antes do 25 de Abril, ganhara o movimento cooperativo
grande incremento, não apenas no domínio económico mas também no educat ivo e cultural.
E, se bem o pensaram, melhor o
fizeram, mau grado todas as desconfianças e dificuldades. Assim surgiu a Luta,
como cooperativa de abastec imento
nomeadamente no âmbito alimentar. Foi um dos seus principais mentores António Bernardino
de Almeida, que tinha loja de electrodomésticos na Rua do Regimento 19. A sua acção pioneira seria justamente reconhecida pelo
Município, que lhe atribuiu nome de rotunda, à entrada da vila, junto ao Bairro
da Assunção .
Para além da manutenção das suas lojas, os comerciantes acabaram também
por optar pela criação de um
supermercado, como forma de lutarem com os mesmos meios contra a concorrência
crescente. Assim se criou o supermercado na Quinta da Carreira e, em Alcoitão,
à saída para Manique, nasceram os armazéns aonde diariamente o movimento foi
cada vez maior e inclusive havia bomba de gasolin a
com desconto para os associados. Esse edifício passou a estar, naturalmente, no
quotidiano das gentes do concelho e daí que a rotunda - hoje decorada com
tubagens num ‘hino’ às pequenas indústrias que paulatinamente se instalaram
nessa estrada de Manique - passou a ser vulgarmente conhecida por ‘rotunda da
Luta’.
Qual não foi, pois, o nosso espanto
quando, há dias, o letreiro LUTA deu lugar a um gigantesco CASA CHINA.
Compreendemos. A Luta lutara até ao
fim; mas… sucumbiu perante os poderes maiores.
Compreendemos, sim; mas lá que temos
muita pena isso é que temos!
José d’Encarnação
Publicado
em Cyberjornal ¸5-07-2015:
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