No
oportuno livro «Contas x Contos x Cantos e que +», editado pela Gradiva (Setembro
de 2012), organizado por Ana Paula Guimarães (com a colaboração de Adérito Araújo), pondera António Canas o
equívoco em que se situa o facto de «a generalidade das pessoas que optaram por
estudar letras geralmente “odiar” matemática» (p. 107).
Trata-se,
na verdade, de uma distracção , na
medida em que o número – e o citado livro prova-o eficientemente – faz parte integrante
do quotidiano:
«O
nosso mundo está inundado de números – dados económicos, horários de reuniões, classificações,
impostos, preços, números de telemóvel, etc., etc.» (p. 85).
Ocorreram-me
estas considerações quando o Peter me contou:
‒ Hoje, pensei em matar saudades de Cascais
e, claro, de bicicleta. Não quero perder a forma, apesar dos meus 77 anos! E
isto de vir de Hamburgo passar aqui três dias obriga-me a revisitar os sítios
que bem conheci quando, há trinta anos, aqui fixei residência em serviço.
‒ E então, não mataste saudades?
‒ Não consegui! Cheguei pouco depois das dez
horas ao quiosque das bicas no largo da estação
e… já não havia! Por isso, marc amos
encontro para amanhã: eu vou logo às 9 buscar a bicicleta e entrego-a às 17.30;
e tu vais lá ter.
A curiosidade
Fiquei, pois, com imensa
curiosidade e, um dia destes, vou vasculhar na página da Câmara, onde constarão
certamente, de tempos a tempos, essas informações de números:
‒ quantas bicas se usam, em média, por dia,
por semana, por mês?
‒ quantas há disponíveis?
‒ que nacionalidades se registam entre os
seus utilizadores?
‒ que movimento de passageiros tem o buscas»?
É um serviço público rendível?
‒ E os parques de estacionamento geridos
pela Cascais Próxima quanto rendem ao erário municipal? Muito, decerto, e até,
se calhar, haverá já informação
acerca dos projectos a ser financiados pelas verbas que sobram após pagamento a
funcionários e chefias e despesas deduzidas.
Parques públicos
Equivoquei-me no horário
de uma cerimónia religiosa na igreja da Boa Nova e não hesitei: fui saber da localização do Parque Urbano do Bosque dos
Gaios, anunciado por várias placas que eu já vira. Não cheguei a entrar, mas
foi o bastante para que possa louvar a oportunidade da sua criação ali.
E gostava de saber se era muito
frequentado (cá está a questão dos números…); se correspondia aos objectivos
para que fora criado. Números, pronto!...
Curiosidade que se aguçou dias
depois, quando fui ver o que, afinal, haviam sofrido com o incêndio as estruturas
das Penhas do Marmeleiro. Aliás, como é sabido ,
pouco tempo após o parque ter sido inaugurado, puxaram fogo ao forte; os painéis
explicativos da sua inserção na
Paisagem Protegida Sintra-Cascais há muito que desapareceram; os dois atraentes
espelhos de água que nos davam as boas-vindas são uma ruína já… Ardeu agora
parte de um passadiço. De quanto tempo se necessitará para uma recuperação ? Há números? Quantas pessoas já visitaram as
Penhas? Que atenção lhes é dada pelos
serviços competente s?
Efeitos do incêndio junto do Parque das Penhas do Marmeleiro, em que uma das passadeiras chegou a ser atingida pelas chamas. |
Lumina
Se outro interesse não tivera o magnificente
«Lumina», constituiu, sem dúvida, objectivo bom dar a conhecer melhor o Parque
Marechal Carmona.
Tenho pugnado por que – atendendo à
importante função social que esse
parque desempenha ju nto da população da vila – Cascais Próxima venha a criar o
conceito universalmente conhecido da «happy hour»: todos os dias, em horário
determinado, ter-se-ia uma hora de estacionamento gratuito no parque adjacente,
que, como se sabe, está ordinariamente em ocupação
mínima. Essa «happy hour» aju daria, decerto, a criar-se o hábito de o utilizarmos
mais vezes – com ulterior maior proveito para a empresa municipal que o gere.
Acho eu, que sou de Letras e de números pouco percebo!...
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 109, 23-09-2015, p. 6.
Caro Professor,
ResponderEliminarPenso que não só essa 'happy hour' seria muito bem vinda como a mesma deveria sem complementada com a existência de uma exploração mais dinâmica da esplanada (que recentemente estava fechada 'para obras') ou até da abertura de um quiosque de empréstimo / troca de livros como outrora existiam em alguns dos jardins de Cascais.
Levar os cascalenses aos seus parques é necessário e recomenda-se :)
Obrigada pelas suas partilhas que leio sempre com atenção.
Um abraço,
Ana Paula Bento
Peguei na última parte desta nota e partilhei-a no facebook, por aí se propor a criação de uma 'happy hour' no Parque Marechal Carmona. Tive várias reacções de aplauso; obtive o silêncio das entidades competentes a quem também dei conhecimento da proposta; houve quem me dissesse logo «menino, estás a malhar em ferro frio!». E fico contente por ter suscitado de Jorge Castro este saboroso naco de prosa, bem oportuna (a meu ver!):
ResponderEliminar________________________________________
De: Jorge Castro
Enviada em: terça-feira, 29 de Setembro de 2015 14:48
Para: José d'Encarnação
Saberá, de sobejo, o caro professor que até os números se escrevem com letras... Para mais, quando, logo mais, articulados pela nossa voz há quem lhes chame, só então, palavras.
E à palavra dada não se olha ao dente, pelo menos antes que o vento a afaste de nós.
Enfim, parece que a promoção da arte do encontro - que aqui preconiza com um bom exemplo - não colhe eco com a frequência que se desejaria, por parte dos mandantes. E lá diria o Vinícius que há tanto desencontro nessa vida. E eu até estou em crer que ele há muito boa gente absolutamente carente de iniciativas destas. E disfrutam. E usufruem.
Espero que estas não sejam palavras-sementes caídas em solo infértil.
Grande abraço,
Jorge Castro