Na
educação familiar: a comparação entre os irmãos feita pelos pais, sobretudo se
na presença dos filhos em apreço e perante outras pessoas constitui erro em que
amiúde se cai, por mais que se diga (e esta é uma comparação boa!) que filhos
são como os dedos da mão: todos diferentes, independentemente de terem (dizem
os pais…) a mesma educação.
Na
escola: aos professores se explica ser a emulação uma prática saudável. A usar,
porém, com conta, peso e medida, para que, por exemplo, o urso da turma não
venha a ser alvo de mui invejosa chacota.
Na
política. A cada passo a comparação vem à baila e, agora, em tempo de campanha
eleitoral, quem há aí que resista a comparar? E quem, por outro lado, não
chega, alfim, à excelente conclusão de que… não há comparação possível, porque é
tudo igual?!...
Agosto
e Setembro são, porém, os meses ideais para comparações odiosas e inoportunas.
Estás à mesa, a saborear apetitosa salada serrana, orégãos quanto bastem, folhinha
de hortelã, tomatinho bem temperado e carnudo, o pimentinho usado a preceito… E
o companheiro de mesa: «Ali na Galiza é que vocês haviam de ver! Aquilo é que são
saladas! E os pimentos de Padrón?». E o senhor desdobra-se na descrição
pormenorizada, de água a crescer-lhe na boca… Ora bolas! – digo eu. – Já esta
salada serrana não me está a saber bem. Importas-te de te calar?
Lindo,
este passeio pelas portas de Ródão. As garças nas margens, a vigilante colónia
de grifos alcandorada nos penhascos altaneiros, ali mesmo onde o rio Tejo se
estreita e nós louvamos a Deus pela beleza proporcionada… «Ah! Mas vocês haviam
de ver! O passeio no Delta do Danúbio com almocinho de peixe a bordo! Aquilo é
que é maravilhoso! Aves de todos os jeitos e feitios! Um outro mundo!...». Ora
bolas, amigo! Importas-te de admirar os grifos?
José d’Encarnação
Publicado no quinzenárioRenascimento (Mangualde), nº 668, 01-09-2015, p. 12.
Publicado no quinzenário
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