É
conhecido o comentador político que faz alarde em possuir, todas as semanas,
informações em primeira-mão; e daí, aparentemente, lhe advém prestígio, uma vez
que, depois, órgãos de informação se encarregam de divulgar e até comentar essa
notícia «em primeira-mão», cuja fonte, obviamente, não é revelada, o que ainda
mais adensa o mistério e faz aumentar o prestígio: «Ele sabe tudo! Está por
dentro das maquinações todas! Tem poder, pronto!».
Isso:
o ter conhecimento dá poder. Porque são «poderosos» os porteiros ou as
secretárias? Porque podem saber o que ao vulgo passa completamente
despercebido!...
Um
dos meus amigos é desses privilegiados. Vou a contar-lhe um episódio e, ainda
mal eu comecei, e já ele me está a dizer «Eu sei!». Fico sempre com a impressão
de que, afinal, ele não sabe mesmo, por se tratar de caso com mui escassas
testemunhas ou passado em ambiente a ele por completo alheio. O certo é que,
com esse «eu sei» mui repetida e convictamente dito dia após dia, lá vai
subindo na vida, parlapié não lhe falta e ninguém o leva preso! Acho que constitui
essa atitude uma forma de se afirmar, de se mostrar alguém. E como tal o
consideram… eu sei!...
Outro
dos meus amigos é completamente o contrário. Nenhuma aparente auto-estima e
sempre a queixar-se: «Não sabia! Ninguém me informou! Nunca me convidaram para
ir aí. Não sei de nada». E a mim o que me parece é que essa queixa até tem um
pouco de verdade. O senhor é… um chato! Ou seja, trata-se de uma forma de se
fazer convidado – e o pessoal resiste a convidá-lo, porque, quando intervém…
sabe tudo! E, mui densamente, eruditamente, tudo expõe, em jeito de massacrar
ignorante. Chego a pensar que é vingança. Será?
Acontece,
porém, que acabo por ter pena de um e do outro: do que tudo sabe e do que
afirma nada saber e, em intervenções públicas, mui peremptoriamente se faz crer
o grande senhor da Verdade. Tenho pena dum e doutro. E já li algures que «ter
pena» é a última atitude a adoptar perante uma pessoa! Mas que lhes hei-de eu
fazer?!...
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 669, 15-09-2015, p. 12.
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