sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Não há anacoretas!

            Saúdo na pessoa do Irmão Armando Leandro – por quem ora tive o privilégio de ser empossado e com o qual, ao longo dos últimos anos, tive a honra de partilhar funções na Mesa da Assembleia Geral desta Santa Casa – saúdo no Irmão tantos outros Irmãos que, mui dedicadamente e sem alarde, se têm entregado à difícil tarefa de fazer singrar esta grande nau por entre escolhos tão perigosos que – ousaria dizê-lo! – muito aquém deles ficariam os celebrados de Cila e de Caríbdis.
            Por conseguinte, na sequência da saudação, vai o voto aos que hoje aceitaram a dificuldade do leme e se comprometeram a navegar serenamente.
            Foram lembradas as Obras de Misericórdia, objectivo maior – e único, aliás! – desta vetusta Santa Casa. Proclamou o Papa Francisco o jubileu da misericórdia. Estamos no Ano da Misericórdia. E, por isso, o caminho volta a estar bem apontado. E urge percorrê-lo!
            Quantos tiveram a gentileza de encher a nossa igreja para testemunhar a solenidade deste acto sabem-no bem: é esse, o caminho das obras de misericórdia, que urge percorrer. Não me enganarei, porém, se disser que não é caminho a fazer a sós, quais anacoretas no deserto! Não há deserto, não há anacoretas! Há… partilha! E tem de haver. Que esta obra, afinal, a todos pertence, que no mesmo barco todos estamos! Há que dar as mãos, limpar atalhos, fazer brotar as nascentes!
Siena: a torre da comuna
e a torre da catedral.
Diálogo ou... despique?
            Quando se observa do ar a cidade de Siena, mergulhado todo o casario na quente coloração do tijolo, há dois riscos brancos, altaneiros, no horizonte: a torre da catedral, imponente no seu revestimento marmóreo, e a torre da comuna, imponente também ela no seu revestimento marmóreo. O poder político e o poder religioso – em diálogo ou ao despique! A interpretação cabe a quem olha, de acordo com a sua ideologia e – porque não? – os seus objectivos de vida!
            Nós, hoje, aqui, queremos proclamar que, se torres houver pelo caminho, que seja para nelas desfraldarmos, na serenidade de benéfica aragem, as bandeiras da fraternidade e da mútua compreensão. Bandeiras iguais, porque, se, como reza o lema autárquico, «Tudo começa nas pessoas», importa lutar por que tudo continue e tudo acabe nas pessoas. Que para elas jurámos trabalhar!
 
                                                        José d’Encarnação
 
[Palavras ditas a 12 de Janeiro de 2016, na igreja da Misericórdia, no âmbito da tomada de posse dos Corpos Sociais da Santa Casa da Misericórdia de Cascais para o quadriénio de 2016-2019].

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