–
Sabe qual é a última palavra d’Os
Lusíadas?
Por sinal, assim
de repente, a pergunta à queima-roupa apanhou-me desprevenido e não soube
responder de imediato.
–
Inveja! – disse o meu interlocutor.
Estava
tudo explicado!...
Ando
a arrumar os meus papéis. 50 e tal anos de jornalismo e de actividade lectiva
nas áreas de Epigrafia, Arqueologia, Património, Comunicação
Social e Turismo fizeram com que fosse ajuntando recortes, folhetos, opúsculos,
convites e tanto outro material, naquela ideia que se tem: «Quando me jubilar –
nessa altura, eu ainda pensava que me jubilaria… – ponho ordem nisto tudo e
tenho aqui material para longa série de crónicas, artigos, reflexões…
Verifico,
agora, que não é bem assim; mas a selecção
impunha-se e muito material acumulado vai sendo distribuído por instituições,
onde será mais útil do que a mim ou aos meus filhos e netos.
Ocorreu-me,
porém, essa tal última palavra do nosso poema épico, quando deparei com o convite
endereçado ao chefe de redacção de
um jornal (que eu guardara como recordação
sua) para ir saborear um almoço de lampreia e dele fazer a respectiva
reportagem. E não pude conter um sorriso! É que, no interior do sobrescrito,
estavam um cartão de visita, uma foto para eventual publicação e a «informação
à imprensa»; e, no exterior, escrita a negro e em diagonal, rubricada pelo
director, a seguinte mensagem:
«Sim,
senhor!
Vá
comer o almoço, mas, para eles aprenderem, não virá uma linha a este respeito.
O. K!».
O
almoço foi a 8 de Março de 1987, ou seja, o 25 de Abril já ocorrera há anos!
O
chefe de redacção confidenciou-me,
depois, recordo-me, que o almoço fora uma delícia; mas, claro, ordens são
ordens e… sobre isso não se escreveu uma linha!
As
«coisas» que a gente reencontra, ao remexer em papéis antigos!...
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 712, 15 de Julho de
2017, p. 11.
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