«Política,
mais do que Ciência, é a Arte de governar um Estado. Idealmente, sob as vestes
da Democracia Representativa. Distante, é certo, dos Ideais da Revolução
Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Salvou-se a Liberdade! Igualdade
e Fraternidade dissolveram-se nas penumbras da utopia… Fruamos, pois, essa
preciosa dádiva da Liberdade».
Política constitui,
pois, o tema desse nº 60, que é – repito – datada de Março e preparada,
portanto, quando ainda se estava no rescaldo da tomada de posse, a 20 de
Janeiro, de Donald Trump, e ainda não houvera incêndios nem armas desviadas...
Por isso, o título, em latim, consigna quase um lema, «Pro Patria omnia», a
recordar frase amiúde afixada em símbolos de instituições de cariz policial ou
militar.Outro é, porém, o tom inicial da revista, que abre com enorme desdobrável a mostrar o exterior do Palácio de S. Bento numa aparente ruína, prenunciando, na janela da página 1, o título «Política e ilusão», nota de abertura invulgarmente longa da autoria do próprio director da revista, que pergunta, no final, se, um dia, a razão prevalecerá sobre a utopia e confessa ter a ideia de que nessa nova Ordem Mundial que se vislumbra há uma «prática política» sem horizonte e que não vem em nenhum dicionário disponível, porque… «há quem lhe chame ILUSIONISMO!».
Antes mesmo de nos debruçarmos serenamente sobre os textos e ilustrações que compõem as 152 páginas da revista, um simples relancear de olhos sobre o seu conteúdo será, porventura, susceptível de nos arrepiar tanto como dar-nos conta de demissões através de um simples telefonema do género da carta que vem transcrita na pág. 6: «It’s our pleasure to inform you that, from this date, your services as President are no longer needed». Temos muito prazer em informá-lo de que, a partir de agora, já não precisamos mais de si!
Vamos, então, a alguns dos títulos: o último discurso de Michelle Obama; «as cinzas de Fidel» (João Pina); «Never before (como ele diria)», de Paulo Portas; «A Política que se rende» (Daniel Oliveira); «A política é o mais altruísta dos egoísmos» (Adolfo Mesquita Nunes); «No hate, no fear. Immigrants are welcome here», ‘Não se aborreçam, não tenham medo, os imigrantes são cá bem-vindos’ (eloquente conjunto de fotografias de Ashley Comer); «Política, je t’aime moi non plus» (de Maria Manuel Viana, em que cada palavra do título esconde uma citação célebre); «O voto secreto» (José Luís Peixoto) …
Duma eloquência atroz os cartazes da
colecção «Ne boltai!» das páginas 100
a 104. E duas cartas, do teor da atrás citada, também
assinadas pelo «Povo», aparecem inopinadamente na revista: uma, também em
inglês, a dispensar os serviços do primeiro-ministro (já!), e outra (p. 54),
datada de 13 Janeiro de 2018 [sic], demite o presidente do Brasil, onde se
declara, a dado passo:
«Quando a carreira política de Vossa Excelência iniciou, seus bolsos estavam vazios e o povo brasileiro tinha esperança.
Hoje, todo o mundo caçoa […] e Vossa Excelência é o único rindo. Tomando banho de piscina.
Não se preocupe. Não vai precisar mais trabalhar.
Aproveite sua aposentadoria».
Eu pus […], mas nas cartas não há reticências: há risco por cima das palavras com caneta de feltro negra.
Patrícia Reis entrevistou António Costa, uma entrevista semeada de fotografias sorridentes. Aliás, Patrícia confessa que se acordara previamente que «seria uma conversa mais ampla, mais intemporal», sem «a Caixa, offshores, SMS, ministros fragilizados»… António Costa «estava bem disposto».
Sob o «je» do título de Maria Manuel Viana a citação é do francês J. Michelet:
«Qual a primeira parte da política? A educação. A segunda? A educação. E a terceira? A educação».
Estamos conversados.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do
Sol Jornal [Cascais], nº 195,
12-07-2017, p. 6.
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