– É tremoço! – explicaram-me.
Na verdade, depois de colhido seco, o tremoço deve ser cozido e tem de passar uma
temporada mais ou menos longa dentro de água (corrente ou mudada com
frequência), até perder o
amargo original e os alcalóides (prejudiciais à saúde) e também para ganhar
macieza e aquele típico sabor levemente agridoce, que tão bem acompanha uma
cervejinha borbulhante e fresca.
Recebi, há tempos, uma mensagem acerca dos
benefícios do tremoço. Desconhecia-os por completo e, por isso, de vez em
quando, compro uma mancheia à do Paulo, empresto-lhes um tempero de ervas à
minha maneira e regalo-me, eu e os meus netos, porque, rezava a mensagem, o
tremoço é «uma das principais fontes vegetais de proteína existentes» e a
elevada presença de fibra permite-lhe «ter um papel activo na regulação
do colesterol e glicemia e ainda na regulação
e protecção da flora intestinal, também devido à elevada presença de
fitoquímicos».
E eu, que, homem do Sul, já gostava de tremoços,
fiquei a gostar ainda mais!
Qual
não foi, porém, o meu espanto quando, ao ler os ingredientes constantes de uma
das embalagens de pronto-a-comer que compro na Cozinha com Alma, me salta à
vista que «pode conter vestígios de crustáceos, peixe, amendoins, frutos de
casca rija, aipo, mostarda, tremoço, moluscos».
Como
é? Um singelo prato que, à primeira vista, nada teria a ver com tremoços,
poderia ter vestígios deles?
E mais espantado ainda fiquei quando me foi
servida a refeição no avião da TAP:
um «pão de cereais com peito de frango, maionese, pickles, rúcula e orégãos».
Achei bem o pão de cereais, saudável, e o uso, cada vez mais apreciado, de
rúcula e dos orégãos (agora, finalmente, descobertos…). Então não é que também
ali vinha a informação , em
maiúsculas: PODE
CONTER VESTÍGIOS DE CRUSTÁCEOS, PEIXE, AMENDOINS, FRUTOS DE CASCA RIJA, AIPO,
MOSTARDA, TREMOÇO, MOLUSCOS?
Fiquei banzado. E fui estudar: trata-se de uma
determinação do Regulamento nº 1169/2011
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de Outubro. De facto, assim, se, no
pão, encontramos um tremoço, não podemos reclamar – estávamos previamente
avisados! Não seria um tremoço inteiro, mas vestígios; em todo o caso…tremoço!
José d’Encarnação
Publicado
em Renascimento (Mangualde), nº 711, 1 de Julho de
2017, p. 11.
Zelia Marques Rodrigues 5/7 às 17:46
ResponderEliminarE ficamos felizes!!!!
Quanto ao letreiro,
EliminarÁ
TRAMOÇO
E
MINUINS
que é um dos que aparece na série «Portugal no seu melhor», é, de facto, o máximo! E então para mim, epigrafista, servia de exemplo nas aulas!
Zelia Marques Rodrigues
ResponderEliminarE, para ti (Homem do Sul), devo dizer que adoro a palavra "alcagoita"...
Carla Santos Brito 5/7 às 18:55
ResponderEliminarAlcagoitas são amendoins; mas comidos no Alentejo... sabem pla vida!
José d'Encarnação 5/7 às 23:09
ResponderEliminarEu também prefiro a designação etimologicamente árabe: é mais nossa; no entanto, também lhes chamamos ervilhanas!
Neyde Theml 5/7 às 18:26
ResponderEliminarEu adoro tremoços...
Carla Santos Brito 5/7 às 18:56
ResponderEliminarO colorido é fantástico, são todos esses pormenores, que tornam único o nosso Alentejo!
Isilda Marques • 6/7 às 18:10
ResponderEliminarDeixam os campos pintados de um amarelo a perder de vista. No Verão, uma cerveja gelada, com tremoços, sabe bem, ai se sabe...! Um abraço, professor!