E
o que ora me fez parar foi aperceber-me de que uma publicação de 1913, cuja imagem da capa me remeteram,
estava inserida numa série intitulada Biblioteca Popular Recreativa e Familiar.
Lembrei-me
de imediato ter frequentado, em jovem, os bailes duma Sociedade Recreativa e de
Instrução Familiar. E vi também que,
em Lisboa, com data de 1836, se publicou o nº 1 (volume V) duma Bibliotheca
Familiar e Recreativa.
Era
a terminologia habitual, eram os paradigmas que se procuravam inculcar.
Despertou-me,
pois, a atenção «O Cosinheiro
Popular dos Pobres e Ricos ou o Moderno Thesouro do Cosinheiro». A Primeira
Parte, a dos Pobres, contém «250 fórmulas de cosinhados simples, saudaveis e economicos»,
numa coordenação de D. Michaella
Brites de Sá Carneiro, «chefe de cosinha portugueza na cidade do Porto». E esta
é já a «terceira edição augmentada»!
Atentar-se-á,
ainda, no facto de a publicação ter sido
feita na Livraria Portugueza, a editora de Joaquim Maria da Costa, situada nos
números 55 e 56 da Largo dos Loyos, da cidade invicta.
Há
palavras que nos soam actuais e que nos perguntamos até: «Já então se pensava
assim?! E como foi possível que, mais de um século passado, elas tenham entrado
de novo no vocabulário corrente como se de novidade se tratasse?».
Não,
não estou a referir-me à oposição
pobres/ricos, que hoje se mantém e, caso dela não nos lembrássemos, lá estava a
Caixa Geral de Depósitos a recordar-no-la, quando propõe uma tabela benéfica
para ricos e outra, dura, para os pobres. Refiro-me aos adjectivos «simples,
saudáveis, económicos», uma trilogia bem actual e bem do nosso agrado. E a um
outro: «portuguesa». Quando, por todo o País, a preocupação
maior, nesse âmbito da culinária, incide na vontade de manter a tradição, de mostrar o que é típico, esse adjectivo
«portuguesa» vem a calhar, mesmo que os nossos cozinheiros (nessa altura, era
«a chefe»!...) se afeleiem a empratar os acepipes, um naco aqui, outro acolá,
bota um raminho de alecrim e outro de hortelã, à mediterrânica (tem que ser!),
à… gourmet! (pois então!...).
José
d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 764, 2019-11-01, p. 11-12.
Este texto é uma delícia (vem a propósito) e cumprimento o autor por estes pedaços de prosa tão apetecíveis. Que os olhos também devoram letras e gostam de absorver o que está bem escrito e é educativo. O Cozinheiro Popular dos Pobrfes e Ricos...Um abraço.
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