– Olá! E como é
que tu te chamas?
– Eu não me chamo, chamam-me! – responde
o Albano, já industriado pelo pai nesse jeito de mangar meridional…
– Tens razão! E, então, como é que te
chamam?
– Chamam-me Albano, tenho três anos, meu
pai é Zétoino e os dentes de leite estão todos a nascer!
Marafado
do mocinho, hein!...
Hoje,
no atendimento ao público, a pessoa
traz ao peito a placa identificativa. Habitualmente, deito-lhe os olhos e, ao
ser tendido, trato a pessoa pelo nome. Amiúde, acolhe-me uma expressão
admirada, que é como quem diz «como é que este sabe o meu nome?». Depois,
apercebe-se da razão e sorri. Gostamos de ser tratados pelo nome. Detesto,
pois, as placas do género T. Gonçalves, à laia da tropa, onde é pelo apelido
que somos tratados. T. pode ser Teresa, Tânia, Tibúrcia!... Não gosto. Também
não gosto que escondam a placa ou a ponham do avesso, assim como quem tem medo
de ser conhecido.
D. Manuel I, «O Venturoso» |
Lembro-me
sempre dum professor, que, por sinal, completou no dia 8 a bonita idade de 95 anos, o
Professor Joaquim Veríssimo Serrão (parabéns, Amigo!). Anos depois de eu ter
sido seu aluno, encontrou-me na rua:
– Olá, Zé Manel, como é que tu estás?
Fiquei
de tal modo satisfeito não apenas por me reconhecer mas, sobretudo, por me
tratar pelo nome habitual nesses tempos de Faculdade, que jurei a mim próprio fazer todos os esforços para
saber os nomes dos meus alunos. E nem me importo de os tratar pelas alcunhas
que lhes dão, se não são pejorativas. Um dos meus antigos alunos é o «Alvito»,
porque é de lá, tem «Feio» de apelido e o pessoal desatou a chamar-lhe «Alvito»
e ele não se rala. Numa das turmas, havia dois Joões. Um – infelizmente já
falecido – era de Alcácer do Sal e tinha aqueles modos de falar vincadamente
alentejano, como é o das gentes de Alcácer. Passou a ser o «João Alentejano». A
alcunha tem esse condão: é como os outros nos vêem e nos caracterizam e
envolve-a, de um modo geral, um halo de camaradagem, carinho. Não adregámos nós
em dar cognomes aos nossos reis? Um é «O Conquistador», outro «O Justiceiro»,
outro «O Venturoso»!…
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 779, 01-07-2020, p. 13.
Uma lição para mim que passo momentos de grande constrangimento, quando encontro antigos alunos de quem lembro o tom de voz, o rosto que tinham Há dez ou vinte anos atrás, mas de quem não lembro os nomes.
ResponderEliminarAlvito foi a melhor alcunha com que fui agraciado até aos dias de hoje. Já tive várias, umas atribuídas por gracinha, outras herdadas, de que é exemplo "Baleizanito"/"Baleizão", que herdei do meu Pai, conhecido aqui na terra por "Manel Baleizão" porque quando era novo gostava muito de entoar a moda "Baleizão, terra Baleizoeira". A alcunha "Alvito" diz-me muito por mostrar o quanto eu sempre fui, desde que nasci um acérrimo defensor da minha terra (nasci em Beja, apenas porque tive de nascer no hospital), da sua história, do seu património e das suas gentes, tantas vezes maltratadas pelo próprio poder locar que, não sei porquê, não gosta de ver a terra desenvolvida...
ResponderEliminarTem ainda o condão de me ter sido colocada por verdadeiros amigos que conheci na faculdade, onde tínhamos ainda o "Biseu", o "Biana" e o "Entroncas" (do Entroncamento). E mais feliz ainda fico quando é utilizado por verdadeiros amigos, como é o seu caso.
Agora volto, como diria outro amigo meu, a debruçar-me sobre Alvito, o "Centro do Mundo e arredores", pois dois livros terão de sair em breve. Um grande abraço para si, aqui do Alvito
O meu estimado amigo e conterrâneo (São Brás de Alportel) Prof. José d'Encarnação é um sábio no que respeita aos costumes, e não só, que mais caracterizam a nossa cultura nacional
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ResponderEliminarTeresa Meira
segunda-feira, 6 de Julho de 2020 17:34
Muito bom! Eu tenho o apelido Vacondeus (já com muitas gerações) do lado materno alentejano.
Não consigo saber a origem, mas talvez oriundo de algum antepassado muito religioso ou de alguém que diria esta frase constantemente sempre que se despedia. Uma alcunha que ficou apelido….
Um abraço
Teresa
Um texto muito bonito sobre os nomes, afinal sobre os afectos ou registos afectivos que eles(nomes) carregam por muitos anos, tantos quantos os de vida dos nomeados. Cada um tem uma alcunha...carinhosa ou não. Tive uma que me foi dada pelo meu pai: Nhocas. Ainda hoje não sei bem qual a razão, só que era carinhosa, sim. Bonito pedaço de prosa, meu Amigo.
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