Não
me admirei, porque a nossa História – independentemente de, em meados do século
XIV, se ter selado um pacto de amizade entre os dois países, com o casamento de
el-rei D. João I com D. Filipa de Lencastre – está semeada de gestos menos amistosos
por parte dos britânicos. Aliás, quando cantamos «Às armas! Às armas! Contra os
canhões marchar, marchar!», que canhões eram esses? Os dos ingleses,
que, a 11 de Janeiro de 1890, nos haviam feito um
ultimato, a obrigar-nos a entregar-lhes os territórios entre Angola e Moçambique,
representados no Mapa Cor-de-Rosa.
Já
não refiro o facto de o Tratado de Methween, assinado a 27 de
Dezembro de 1703, só aparentemente nos ter sido favorável, porque o interesse
britânico era o de chegar mais facilmente aos barcos vindos com o ouro do
Brasil…
Querem
bloquear-nos agora? Estão no seu pleno direito de ignorarem
a História, pois foi precisamente para os seus barcos poderem vir abastecer-se
à costa portuguesa, que Portugal não respeitou o Bloqueio Continental decretado,
a 21 de Novembro de 1806, por Napoleão Bonaparte e sofreu, por isso, três
invasões que nos depauperaram. Sim, eles, os britânicos acabaram por vir ajudar-nos, mas, não fora o movimento surgido após a frustrada
conspiração de 1817 contra o
marechal inglês Beresford, mais tempo ainda eles estariam por cá – que a governança,
com Suas Majestades no Brasil, lhes era bem favorável!...
Deixemos,
pois, esses senhores e voltemos, então, às invasões, porque nos comprometemos a
contar histórias relacionadas com o burgo cascalense.
Sala nobre do Solar D. Carlos, em Cascais, onde terá sido assinada a Convenção de Sintra |
«Os
7000 franceses que desembarcaram em Quiberon vinham carregados de ouro e não
havia nenhum soldado que não trouxesse à volta do corpo cintos repletos de
moedas de ouro».
¿Aliás,
não se estipulava também aí, nessa Convenção,
que as fortificações e praças apreendidas pelos franceses eram entregues aos…
ingleses?
Não
fora, porém, nada serena a estada das tropas francesas por Cascais nesse ano de
1808. Além de os soldados portugueses mais válidos terem sido de imediato incorporados
na Legião Estrangeira e enviados para França, foi de polé o tratamento dado,
por exemplo, pelo general Morin, conforme relato do então Juiz de Fora, José Belo
Madeira (veiculado por Ferreira de Andrade, em Cascais Vila da Corte – p. 260). Diz Belo Madeira que, ao chegar, o
general «sem civilidade e em tom napoleónico», lhe «deu uma ordem por escrito
para fazer aportar 1200 rações de pão, carne, vinho, legumes e lenha para, no
dia seguinte; fornecerem a tropa».
Não
houve luta aberta, mas o povo sabia-as fazer pela calada. Num relato da época
se conta que, nas redes, de vez em quando lá vinha mais um cadáver francês!…
Nove
meses aturou Belo Madeira os despotismos franceses, mas, ao recordar esse ano,
em carta de 1810, confessa sentir-se desvanecido por não ter visto correr
sangue cascarejo; por o povo de Cascais nem um real ter pago para a contribuição dos 40 milhões; por ele próprio não ter
desarmado o povo, impedindo assim que o saque à vila tivesse sido maior. Conta
também que, um dia, por o general francês o haver desmentido, se foi a ele, lhe
agarrou na espada e com ela o trespassaria se os ajudantes
não tivessem acorrido...
O
certo é que todas essas atrocidades se cometeram contra o povo português, por
termos sido fiéis à «velha aliança britânica». E nem a dita Convenção de Sintra, assinada em pleno coração da vila cascalense entre ingleses e franceses
nos valeu!
José d’Encarnação
Jaime Rio-Miranda Alcón
ResponderEliminar4 de julho às 20:20
Que podemos decir de los british, que solo han sabido avasallar a cualquier país.
Um formidável texto de relance à História, neste caso às alianças entre Inglaterra-Portugal. Como se pode ver, os ingleses não mereciam as várias oportunidades. E em relação à pandemia, aí está mais uma demonstração de que os interesses económicos se sobrepõem à solidariedade. Bem haja ao autor por nos trazer, a propósito da última manifestação de "traição", um pedaço da História de Portugal que muito debilitou o então reino. Um bem haja por este brilhante e suculento pedaço de prosa.
ResponderEliminarE tradicional a «falta de chá» britânica... o qual, aliás e segundo consta, se não lhes tivesse chegado por mãos portuguesas, ainda menos teriam...
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