Para
os arqueólogos, achar uma moeda constitui bom presente, porque a moeda apresenta
elementos passíveis de uma datação
e, por conseguinte, assim possibilita atribuir uma cronologia ao contexto em
que se encontra.
Além
dessas moedas perdidas, mais interessante se apresenta a identificação de um tesouro. Chama-se ‘tesouro’ a uma porção de moedas propositadamente escondidas, como hoje
se fala em meter as notas dentro do colchão ou em esconderijo da casa a bom
recato. O proclamado «pote das libras»! Não que, em tempo de Romanos, essas
libras houvesse; a libra era outra, uma medida de peso equivalente a 327 gramas; mas porque,
em tempo de nossos avós, o amoedamento privilegiava a libra de ouro, o hábito
era – para quem podia… – oferecer uma libra ou meia-libra de ouro por altura do
baptizo. Daí a expressão «pote das libras». Escondia-se o pote, os interessados
morriam e o pote lá ficava!...
A
aguardar séculos que os arqueólogos o encontrassem! Às vezes, com milhares de
peças, de que são particularmente importantes, do ponto de vista histórico, a
mais recente e a mais antiga, para nos darem a conhecer o período do
entesouramento.
Aspecto de um tesouro de moedas romanas |
Pois
todas aquelas ideias acerca do bolso
roto me passavam pela cabeça, mormente quando, nas escavações, eu encontrava
uma moedinha romana, até que o parque de estacionamento de terra batida perto
de casa foi desactivado e eu, em passeio por lá com o Spike, dei em encontrar,
todas as semanas, moedas de 1 cêntimo, 2 cêntimos, 5, 10 e, até, de 20 cêntimos!
Terão sido os automobilistas que as deixavam cair inadvertidamente?... Até que
me lembrei do rapaz, já falecido por sinal, que ali ajudava
nas arrumações. Só podia ter sido ele, justa mente porque as moedas apareciam no
espaço em que mais se movimentava. Só podia ter sido ele! Deitava fora as
moedas de pouco valor! Nos estabelecimentos comerciais, marcam
os produtos a 19,99 euros, para nos darem a sensação
de que não são tão caros assim; mas o João, que nunca estendia a mão «Uma
moedinha, por amor de Deus!», achava que 5 cêntimos não davam para nada e só
lhe pesavam no bolso!...
Não,
no tempo dos Romanos, não haveria arrumadores de bigas ou quadrigas; não duvido,
porém, que, de vez em quando, caísse das mãos uma moedinha dessas e o proprietário
não estivesse com vontade de se agachar por tão pouco!...
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 780, 15-07-2020, p. 12.
Que lindo texto. Esses passeios com o Spike estão a converter-se em autênticas aventuras, porque achar uma moeda remete para a infância, quando elas, quaisquer umas, eram mais uma migalha de um possível "tesouro". Fala também o arqueólogo, do fascínio pelas moedas romanas para datação. E essas gostava eu de achar num sítio qualquer.
ResponderEliminarMuito grata por este bocadinho de prosa que traz sempre um raio de sol.
Bela estória. Gostei.
ResponderEliminarAna Teresa
ResponderEliminar20 de julho às 09:01
Sempre me fez confusão encontrar moedas em fontes. Para que raio as atiram para lá? E já muitas vezes me baixei na rua para apanhar moedas de 1, 2 cêntimos. E sempre me fizeram jeito! Pois, não dá para entender porque uns as deitam nas fontes e outros não as apanham do chão. Eu não as deito nas fontes e apanho-as do chão e, felizmente, não preciso. Simplesmente, sou contra o desperdício.
Eu também apanho, mesmo que seja um centavo brasileiro ou dois dólares australianos, como me acontece há dias. Sempre podemos imaginar - como eu fiz - uma história por detrás de cada moeda perdida ou deitada ao chão. Nas fontes é diferente, porque uma tradição antiga, que perpassa por muitos povos desde o tempo dos Romanos, por exemplo, às fontes presidiam seres divinos, que assim poderiam ser agraciados. Atira-se uma moeda na Fontana dei Treveri, em Roma, de costas voltadas para o tanque: se cair lá dentro, voltas a Roma de certeza. Outras vezes, pensa-se que dá sorte e as 'divindades aquáticas' nos protegem...
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