quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Comprou palmilhas contra os cogumelos!

            Num alvoroço, o meu vizinho Carlos veio mostrar-me: comprara umas palmilhas «protecção dos cogumelos»!... Fabricadas, naturalmente, na RPC – vulgo China – traziam informações em três línguas: era o português a primeira, depois o castelhano e, por fim, o inglês.
            E se a primeira questão que se põe é o facto, até desculpável, de se confundirem fungos com cogumelos, dado que, por exemplo em Itália, cogumelos é «fungi» – e o que se quer dizer é que essas palmilhas evitam a propagação de fungos, um dos problemas de que podemos sofrer nos pés… – acabamos por nos interrogar, ao ler os textos, como é possível conceberem-se com tanta facilidade atentados às línguas. O que aí se lê na parte dita portuguesa é de fazer rir as pedras. Ora veja-se:
               Mas o que vem em castelhano segue no mesmo caminho e só lendo o inglês (ainda que incorrecto) é que temos uma ideia do que se pretende afirmar:
            «Esta palmilha facilita a ventilação, absorve o suor e protege dos fungos e dos gérmenes. Pode tirar-se e secar ao sol e torna os seus sapatos deveras confortáveis».
            Dificilmente tal mensagem se poderá deduzir do que as cinco linhas «em português» nos apresentam.
            O produto, como é natural, foi importado. É portuguesa a firma importadora e aí vem devidamente identificada (por sinal, sem erros ortográficos), com nº de contribuinte e telemóvel e morada.
E, aqui chegado, o jornalista nem sabe como é que há-de pegar no assunto: limita-se a dar conhecimento e a proporcionar, assim, uma boa risada aos seus leitores ou assume uma atitude mais crítica e ousa perguntar ao senhor importador se não tem vergonha de comercializar palmilhas… contra os cogumelos?
            Vou, pois, ficar-me por aqui, com a pergunta no ar, porque reconheço não ser missão da ASAE pugnar pela defesa da nossa língua mas sim, exclusivamente, pela boa qualidade dos produtos. E os cogumelos… que se cuidem!
 
Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 608, 15-01-2013, p. 3.

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