Colaboraram dois grupos corais – um
formado por funcionários da instituição e outro, a Tuna Sénior dos centros de
dia – que foram sublinhando a solenidade do rito, no intervalo entre cada uma
das suas partes. Assim aconteceu no início e no final, bem como após a saudação
e leitura de uma passagem do Novo Testamento pelo Prior, Padre Nuno Coelho, e a
tomada de posse dos membros da Assembleia Geral, um momento alto, esse, assinalado
por uma sentida «Ave Maria» brilhantemente cantada a solo.
O actor Ricardo Carriço disse as obras de misericórdia,
após o que tomaram posse, sucessivamente, os membros da Mesa Administrativa e
do Conselho Fiscal da Santa Casa assim como do Conselho de Administração e do Conselho
Fiscal da Fundação Portuguesa para o Estudo e Prevenção e Tratamento da Toxicodependência,
organismo umbilicalmente ligado à Santa Casa.
Tanto o Senhor Presidente da Assembleia Geral, Juiz Conselheiro
Armando Leandro, como o Senhor Presidente do Conselho Fiscal, Professor Doutor Alberto
Ramalheira frisaram, nos seus discursos, a importância do acto e o seu enorme
significado nas circunstâncias presentes em que o serviço social, a que a Santa
Casa se dedica, assume papel relevante e imprescindível no seio da comunidade.
Prescindir do mais ter para o mais ser
Tomando a palavra, a Senhora Provedora, Dra. Isabel
Miguens, começou por sublinhar que, existindo em Cascais esta Santa Casa desde
1551, «a matriz da sua acção tem sido sempre, e ainda hoje, a mesma: cumprir as
obras de Misericórdia», com vista à formação de «uma sociedade mais humanizada
e inclusiva, centrada no homem, ser único, e na sua magnífica dimensão familiar».
Dedica-se, pois, a Misericórdia de
Cascais a um trabalho específico, centrado no sector social, que terá de ser «uma
opção de partilha sistemática com a sociedade e com os seus representantes», «um
compromisso assente na confiança», «diariamente, um acto de humildade perante
as graves situações que se nos deparam», «um trabalho profissional, rigoroso,
temperado também com o afecto dos voluntários», «determinante no enlace entre
gerações».
A actual crise económico-social, acentuou, «é também
uma crise de valores, que nos obrigará a todos […] a uma introspecção a que
certamente a nossa geração não esteve habituada»: «Prescindir do mais ter para o mais ser é um exercício a que ninguém se poderá negar».
E depois de se referir às novas circunstâncias que
tornam ainda mais complexa a actividade que a Santa Casa se propõe desenvolver
– o galopante aumento da pobreza, a abrupta diminuição dos chamados direitos
sociais, o envelhecimento cada vez maior da população, o assustador crescente
número de desempregados… – frisou bem que as organizações do sector social sem
fins lucrativos devem ser «socialmente lucrativas, exemplares nas competências,
enérgicas nas funções, para potenciarem capacidades».
Apoio diário a mais de 4000 famílias
Traçou, de seguida, um panorama da
actividade que a Santa Casa hoje desenvolve com os seus 620 trabalhadores, no
apoio diário a mais de 4000 famílias: cerca de 2000 crianças e jovens, em 14
estabelecimentos; 48 crianças privadas de meio familiar ao seu cuidado num
estabelecimento fora do concelho; 340 adultos deficientes e mais de mil idosos
em lares, centros de dia e de convívio, e em apoio domiciliário. Ajudam-se famílias
necessitadas de intervenção especial, nomeadamente através da articulação dos
programas de Rendimento Social de Inserção, e desenvolve-se um trabalho
especializado na área das dependências e na sua prevenção, através da Fundação
Portuguesa para o Estudo, Prevenção e Tratamento da Toxicodependência.
Por isso, as actividades comerciais a
que a Misericórdia se entrega (refira-se a farmácia e a loja do Bom Apetite, em
Alvide, dedicada à venda de refeições confeccionadas) têm como fim exclusivo proporcionar
alguma ajuda à sustentabilidade desse trabalho social.
Isabel Miguens saudou,
mais uma vez, as entidades presentes, na medida em que toda esta actividade
tem, a seu ver, de resultar necessariamente de uma acção colectiva: «Sabemos
bem que os nossos dossiês são os maiores da Segurança Social!», declarou, e fez
uma referência especial «aos voluntários que partilham a vida da Instituição e,
sobretudo, amenizam o dia-a-dia daqueles que servimos».
Concluiu, apontando as
metas a atingir:
– Consolidar o trabalho
em curso;
– Qualificar as áreas
consideradas socialmente mais frágeis, através de um maior empenho na formação;
– Reforçar, através da
Irmandade, o enlaçamento da comunidade do concelho com a Misericórdia e da
Misericórdia com a comunidade;
– Pedir, pedir todos os
dias o apoio dos voluntários;
– Apelar ao apoio do
tecido empresarial, através de um reconhecimento mútuo e parcerias.
– Criar pequenas áreas
de negócios, que garantam a sustentabilidade dos programas sociais.
– Trabalhar diariamente
na motivação da sociedade para os problemas dos mais frágeis.
– Ser motor de mais e
mais emprego.
– Ajudar o Estado a
definir as suas funções e os seus limites.
E garantiu que «a Santa
Casa da Misericórdia de Cascais continua disponível, como até hoje, para fazer
parte da solução e da esperança, estando os seus órgãos sociais determinados a
trabalhar muito para alcançar esse objectivo».
Os oradores seguintes – Presidente
da União das Misericórdias Portuguesas (Manuel
Augusto Lopes de Lemos), o Secretário de Estado da Segurança Social (Dr.
Marco Almeida Costa) e o Presidente da Câmara (Dr. Carlos Carreiras) – afinaram
todos pelo mesmo diapasão positivo, da esperança, na promessa da maior
colaboração. O Sr. Secretário de Estado, num vibrante discurso improvisado mas
prenhe de significado, reconheceu quão difícil é trabalhar com o Presidente da
União das Misericórdias, dado o seu elevado espírito crítico e a sua tenacidade,
e comprometeu-se, por exemplo, a dar o mais rápido andamento à assinatura do
protocolo referente à creche da Pampilheira. E o Sr. Presidente da Câmara deu a
entender que rapidamente se resolveria também um problema candente e da maior
preocupação para a Santa Casa, que é o processo referente ao Plano de Pormenor
do local onde esteve a praça de touros.
A igreja da Misericórdia foi pequena
para conter a pequena multidão dos que desejaram associar-se ao acto, entre os
quais registamos a presença da vice-presidente da Assembleia da República
(Teresa Caeiro); da presidente do Instituto da Segurança Social (Mariana
Ribeiro Ferreira); do deputado Dr. Ricardo Leite; de autarcas e antigos
provedores; de Mário Assis Ferreira, ainda na sua qualidade de Presidente do Conselho
de Administração da Estoril-Sol; de João Cordeiro, da Associação Nacional de
Farmácias; de jornalistas da Comunicação Social local – para além de muitos
trabalhadores da instituição.
Publicado na edição de 09-01-2013 de Cyberjornal: http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=17667&Itemid=67
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