O facto de ter falado no burro e sua
albarda (e nas albardas muitas que nos querem pôr em cima…) levou-me a recordar
uma outra frase que amiúde ouvia a meu pai durante o Inverno:
– Está frio que nem um burro!
Encontrei a expressão citada num dos
portais da Internet, apenas num, mas nenhuma explicação aí se aduzia e,
sobretudo, não se dava conta do que meu pai sempre acrescentava, com ar bem malicioso:
– Sê pai tá
em casa, menina?
Nunca lhe cheguei a perguntar a
origem exacta da expressão, que certamente ele próprio ouvira desde pequenino. Mas
imagino a cena: o namorado bate à porta, demora o namoro à janela, como era de
uso nesses tempos, e, a certa altura, o frio apertava um pouco mais e o desgraçado,
enregelado – que o fogo do amor só o aqueceria por dentro… –, atrevia-se a perguntar:
– Sê pai tá em casa, menina?
Penso eu que a intenção era bem
clara: se o pai estivesse, poderia autorizar a que o moço entrasse e pudesse a
conversa continuar mais perto do borralho, no aconchego da casa.
Quiçá haja aqui uma referência à
baixa temperatura da montada, de burro sem albarda; mas a mim o que mais me
encanta na frase é esse humor tão nosso, tão meridional, a raiar a brincalhona
malícia que o algarvio sempre sabe pôr na fala quotidiana.
Publicado em VilAdentro
[S. Brás de Alportel], nº 168 (Janeiro 2013) p. 10.
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