Chorámos
pela Ana Rita, de 24 anos, dos Bombeiros de Alcabideche. Fazemos diariamente
votos para que as promessas feitas no calor da imensa mágoa não caiam em saco
roto. Chorámos o Bernardo Figueiredo dos Bombeiros do Estoril, de 23 anos,
apanhado pelo mesmo incêndio traiçoeiro, para cujo combate generosamente se haviam
oferecido, lá nos confins da Beira.
Luto
pesado caiu sobre Cascais.
Mas,
do outro lado do nosso ser, rompeu, mais uma vez, a revolta. Não há castigo
exemplar para os incendiários? Que leis são estas, que punem quem tira, para
matar a fome, uma lata de salsichas do supermercado e manda em liberdade condicional
quem acarreta milhões de prejuízo ao País, a todos nós, contribuintes?
40 horas
Cada
cavadela, cada minhoca! Tudo porque não imaginaram (é estranho, de facto!) que
estão a lidar com pessoas e que, afinal de contas, também eles são pessoas.
Pelo menos, parecem!
No dia 30
de Agosto, a grande novidade: Sua Excelência, o Senhor Presidente da República promulgara
«o diploma que prevê um acréscimo de cinco horas semanais ao horário de
trabalho dos funcionários públicos». O raciocínio, muito simples: «Mais horas
de trabalho, maior rendimento, com os mesmos custos!». Asneira, claro! E logo o
antigo conselheiro de Passos Coelho, António Nogueira Leite, veio explicar:
«Na
prática, o aumento para 40 horas não vai pôr a Administração
Pública a trabalhar mais. […] O que tinha mais efeito era que, na Função Pública, uma parte do vencimento fosse indexado
à performance das pessoas». (Aqui
para nós, quando o senhor diz performance
não está a falar de perfumes ou afins; está a usar uma palavra inglesa – “é
bem, percebe!...” – que significa «dedicação ,
competência, entrega a uma causa, entusiasmo» – ena, pá, quantas palavras a gente
tem para dizer aquilo!...).
Pois é,
amigo Nogueira Leite, o senhor é «antigo» conselheiro, não se esqueça; agora,
os conselheiros são outros e têm outras performances!
Oh se têm!... Ah! Mas não ligam às performances
dos outros!...
Próxima, sim, mas muito pouco!
Chama-se «Cascais
Próxima» a empresa municipal que gere, por exemplo, os parques de estacionamento.
Não poderia ter nome mais apropriado, porque, na verdade, está mesmo «próxima»
de nós, pois dificilmente na vila estaremos longe de um local onde se não tenha
de pagar pelo estacionamento.
Então
qual a razão do título desta nota «Próxima, sim, mas muito pouco!»? Simplesmente, porque, em ocasião de
grandes cerimónias, como o foi, por exemplo, no final da tarde de domingo, 8 de
Setembro, a solene abertura do Congresso Internacional dos Museus Marítimos, os
responsáveis por essa tal de Cascais Próxima poderiam ter-se lembrado de
facilitar gratuitamente o estacionamento no parque fronteiro à Casa das Histórias
Paula Rego das viaturas de jornalistas devidamente identificados e, sobretudo,
dos técnicos camarários que, por razões de serviço, ali se deslocaram em carros
camarários, que, como se sabe, estão devidamente identificados. E fiquei a
saber que era assim: mesmo os veículos camarários têm de pagar à Cascais
Próxima!
Esperemos,
pois, que pelo menos essa empresa dê avultados lucros no final do ano. O
problema estará em que – palpita-me!... – tão próxima está que os lucros não serão partilhados com a Câmara
Municipal, que é sua mãe. Emancipou-se, a menina! Se nem os parques ela quer
partilhar!...
Cascais no centro da meteorologia!
Desde
há uns tempos a esta parte que os boletins do Instituto Português do Mar e da Atmosfera citam
habitualmente Cascais. Nunca tal sucedera antes e nós até nem nos importávamos
muito com isso. Deve ter havido alguém que resolveu, no entanto, achar que a
vila também neste caso estava a ser desconsiderada e, por isso, vá de meter a
cunha: «Oiçam lá, meninos, vocês não podem falar de Cascais todos os dias? Era assim
a modos de uma forma de fazerem publicidade cá do burgo, entendem?». E os
senhores do IPMA têm sido bem mandados: ele é «a norte de Cascais», ele é «a
sul de Cascais»…
Nós
os que vivemos em Cascais há algumas dezenas de anos parece-me que sabemos (se calhar,
não sabemos…) que, por estas bandas, é pela Serra de Sintra que se faz a
distinção do tempo: para norte, é capaz de chover e estar nevoeiro; para sul,
ou seja, em todo o território cascalense, normalmente o tempo é outro. E quanto
ao sul, se falassem em Cabo da Roca (disseram-me que também podia ser a partir do
Cabo Raso) a gente ainda entendia; agora para ‘sul de Cascais’!… A senhora do IPMA
que me atendeu, quando eu liguei para lá a pedir uma explicação, respondeu-me
mais ou menos assim: «Estamos a falar da costa e quando se diz ‘a sul de
Cascais’ é de Cascais até Vila Real de Santo António!».
Compreendi
que tinha sido uma grande cunha, essa de se falar de Cascais na meteorologia.
Abençoada cunha!
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 15, 25-09-2013, p. 12.
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