«Espectáculo»
no sentido etimológico do termo, da palavra latina «spectaculum», derivada, por
sua vez, do verbo «spectare», ‘contemplar’, ‘observar atentamente’. Tudo saído,
concretamente, do horizonte das artes da representação.
Espectáculo-festa, espectáculo-animação.
Espectáculo-fantasia.
Nunca me canso de folhear o livro «Psicologia
das Multidões», de Gustave le Bom. A escalpelização arguta, já em 1895, dos
truques de que – qual prestidigitador – o candidato se deve servir para iludir
os eleitores. Promete-lhes a Lua! Não vais poder dá-la? Não há problema –
quando se souberem os resultados da eleição, já tal promessa se desvaneceu!...
Esta crónica, gizada em plena
campanha para as autárquicas, sai quando os resultados são conhecidos e todos
os partidos proclamaram, à uma, as suas vitórias (grandes ou pequenas) e os seus
arautos recuperam das longas jornadas país afora. Não há nisso mal algum.
Ainda
que, normalmente, os dirigentes partidários hajam aprendido as frases-chave a aplicar
em todo o sítio, certo é que, assim, algo fica e se regista a possibilidade de
– mesmo que superficialmente – se conheçam umas nesgas do interior do País. Sim,
já lá vai o tempo em que aquele Senhor (com letra grande) se informava
miudamente, antes de ir a uma terra, quem eram os vizinhos influentes e quais
as necessidades reais da localidade. As necessidades reais. Outros
tempos!...
Há, porém, de vez em quando,
aspectos que me agradam, pelo seu carácter inesperado. Para já, os letreiros
dos cartazes. Epigrafista que se preza, tem de lhes dar atenção! Assim, aplaudi
o apelo ao voto dos viseenses, postado em lisboeta lugar de destaque. Um
achado! E toda a gente falou – era o pretendido.
Em Altura, aquela magnífica praia
algarvia onde passei uns dias (água morninha, a tentação das conquilhas e a descoberta
de camaleões na duna…), o cartaz rezava que eram aqueles os candidatos à altura.
Bom trocadilho!
Também apreciei a polémica da maternidade
em Coimbra. Mais uma maternidade – precisa-se! Aí pensei que não nasci numa
maternidade, nasci em casa; meu irmão também. Meus filhos, sim, mas os meus
netos não, já nasceram em hospitais.
Cascais
teve maternidade a
partir de 1938, no Monte Estoril, em casa de Maria Amélia Azancot; veio
depois a da Misericórdia e regressou ao Monte Estoril, à Villa Emma, até 1973.
Tempo houve em que a quase totalidade dos cascalenses nasceu na Alfredo da Costa,
em Lisboa.
Para mim, a questão fundamental não é ter maternidades.
É ter bebés a nascer! Construir um edifício e até mantê-lo pode não ser
complicado. Complicado é dar ao Povo condições para procriar em liberdade. E
isso os candidatos não prometem!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 337, 2021-09-29, p. 6.
De facto, os candidatos prometem muito e cumprem pouco, ou quase nada. Também gosto especialmente desse livro de Gustave Le Bon. A união faz a força, ideia quase sempre usada no bom sentido, pode funcionar para o lado errado do apoio que um candidato, por exemplo, sente pelo facto de pertencer a um grupo, partido. Aqui a questão é saber se os objectivos do grupo são honestos, bem intencionados, ou apenas ânsia de poder a qualquer preço. Que bom que nos faz pensar com os seus textos, Sr. Prof. Doutor José d´Encarnação!
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