A
razão do apelo prende-se com a violência dos mais diversos tipos de que ora são
alvos os idosos, dadas as inúmeras dificuldades que as famílias estão a sentir
para os proteger. Dificuldades financeiras mas, sobretudo, disponibilidade para
os acompanhar devidamente, quer em casa quer mesmo em centros de dia ou nos
lares onde os possam pôr.
Há
toda uma nova dinâmica que se torna necessário adoptar perante a situação dramática que ora se vive, sublinhou a Dra.
Isabel Miguéis Bouças, informando, por exemplo, que acabara de dar entrada num
dos lares da Misericórdia um ancião com 99 anos, facto que, até há meia dúzia
de anos, seria considerado inconcebível! As famílias, cada vez com menos
recursos, aguardam, ansiosas, o momento dramático dessa caminhada: aquele em
que o ancião, independentemente da idade que tiver, passa a estar dependente de
terceiros!
Um
dos centros de dia da Misericórdia é, hoje, mais um «lar de dia», com inúmeros
problemas de saúde mental, cujo tratamento ultrapassa as capaci dades dos que lá estão a trabalhar. Tudo se
processou muito rapidamente, sem que as estruturas e as pessoas estivessem
preparadas para enfrentar esse novo paradigma que se instalou e para o qual há
que adoptar soluções dignas. «O Estado», sublinhou a provedora, «não pode ficar
em gabinetes: tem de enfrentar a realidade!».
É
sabido que, do ponto de vista político, as pessoas de idade não têm suficiente
importância; contudo, essa ideia é bem provável que não corresponda
inteiramente à verdade, porque os anciãos têm uma família e as suas
dificuldades acabam por se tornar as dificuldades de todos. De facto, alguém
escreveu: «A ‘coisa’ mais importante para os pais são os filhos; mas a ‘coisa’
mais importante para os filhos não são os pais!» – e há que ter consciência
disso!
No
decorrer da troca de impressões, Graça Poças, membro da Associação para a Cooperação
e Desenvolvimento – P & D Factor, referiu que, nesse âmbito, está a ser
preparada para apresentação ao mais
alto nível internacional, nas Nações Unidas, uma Carta da População Idosa, porque o paradigma mudou
substancialmente: hoje temos «adolescentes de 40 e 50 anos», «jovens adultos»
no que concerne à sua falta de autonomia! Os direitos humanos precisam de ser
vistos em função do ciclo vital, não
apenas atendendo aos velhos e às crianças, tal como eram encarados até há
cinco-seis anos atrás. Urge pugnar pelo estabelecimento de uma Convenção Internacional dos Direitos Humanos da Pessoa
Idosa! Urge gizar novas estratégias com base no quotidiano concreto. Carece-se
de uma cultura de prevenção : que os
pais comecem a estar sensibilizados para as transformações de que os filhos vão
sentir as consequências.
Como
entidade que é confrontada, no dia-a-dia, com esta súbita mudança e suas
trágicas consequências a todos os níveis, a Misericórdia de Cascais está, pois,
ciente da necessidade de se falar deste tema – para que as soluções também celeremente
se encontrem, uma vez que a celeridade é a característica primeira desta
inexorável mudança social.
Publicado
em Cyberjornal, edição de 07-12-2014:
Alberto Ramalheira comentou, a 8 de Dezembro de 2014 18:50:
ResponderEliminarAgradeço o seu escrito sobre a necessidade de dar atenção aos nossos "maiores", sobretudo quando estes se tornam dependentes. É uma área social de grande urgência, não só para defesa dos seus direitos e da sua dignidade, mas sobretudo para os libertar da angústia da solidão, hoje uma das maiores ameaças e que não se resolve com financiamentos, mas apenas com a dádiva de tempo por parte de almas caridosas e fraternas. É uma cruzada de grande fôlego... Já no AT encontramos a recomendação: ..."ampara o teu Pai na velhice"... Mas o individualismo e o egoísmo reinantes não deixam margem para a compaixão e o amor. Tenhamos esperança que este tempo de Sínodo sobre a Família traga nova luz e novas atitudes... Deus não nos abandona.