domingo, 7 de dezembro de 2014

Comissão de Protecção de Maiores... precisa-se!

            Este grito de alerta foi lançado na passada terça-feira, 25 de Novembro, pela provedora da Santa Casa da Misericórdia de Cascais, no decurso da Assembleia-geral da instituição, presidida pelo Juiz Conselheiro Armando Leandro.
            A razão do apelo prende-se com a violência dos mais diversos tipos de que ora são alvos os idosos, dadas as inúmeras dificuldades que as famílias estão a sentir para os proteger. Dificuldades financeiras mas, sobretudo, disponibilidade para os acompanhar devidamente, quer em casa quer mesmo em centros de dia ou nos lares onde os possam pôr.
            Há toda uma nova dinâmica que se torna necessário adoptar perante a situação dramática que ora se vive, sublinhou a Dra. Isabel Miguéis Bouças, informando, por exemplo, que acabara de dar entrada num dos lares da Misericórdia um ancião com 99 anos, facto que, até há meia dúzia de anos, seria considerado inconcebível! As famílias, cada vez com menos recursos, aguardam, ansiosas, o momento dramático dessa caminhada: aquele em que o ancião, independentemente da idade que tiver, passa a estar dependente de terceiros!
            Um dos centros de dia da Misericórdia é, hoje, mais um «lar de dia», com inúmeros problemas de saúde mental, cujo tratamento ultrapassa as capacidades dos que lá estão a trabalhar. Tudo se processou muito rapidamente, sem que as estruturas e as pessoas estivessem preparadas para enfrentar esse novo paradigma que se instalou e para o qual há que adoptar soluções dignas. «O Estado», sublinhou a provedora, «não pode ficar em gabinetes: tem de enfrentar a realidade!».
            É sabido que, do ponto de vista político, as pessoas de idade não têm suficiente importância; contudo, essa ideia é bem provável que não corresponda inteiramente à verdade, porque os anciãos têm uma família e as suas dificuldades acabam por se tornar as dificuldades de todos. De facto, alguém escreveu: «A ‘coisa’ mais importante para os pais são os filhos; mas a ‘coisa’ mais importante para os filhos não são os pais!» – e há que ter consciência disso!
            No decorrer da troca de impressões, Graça Poças, membro da Associação para a Cooperação e Desenvolvimento – P & D Factor, referiu que, nesse âmbito, está a ser preparada para apresentação ao mais alto nível internacional, nas Nações Unidas, uma Carta da População Idosa, porque o paradigma mudou substancialmente: hoje temos «adolescentes de 40 e 50 anos», «jovens adultos» no que concerne à sua falta de autonomia! Os direitos humanos precisam de ser vistos em função do ciclo vital, não apenas atendendo aos velhos e às crianças, tal como eram encarados até há cinco-seis anos atrás. Urge pugnar pelo estabelecimento de uma Convenção Internacional dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa! Urge gizar novas estratégias com base no quotidiano concreto. Carece-se de uma cultura de prevenção: que os pais comecem a estar sensibilizados para as transformações de que os filhos vão sentir as consequências.
            Como entidade que é confrontada, no dia-a-dia, com esta súbita mudança e suas trágicas consequências a todos os níveis, a Misericórdia de Cascais está, pois, ciente da necessidade de se falar deste tema – para que as soluções também celeremente se encontrem, uma vez que a celeridade é a característica primeira desta inexorável mudança social.

Publicado em Cyberjornal, edição de 07-12-2014:

1 comentário:

  1. Alberto Ramalheira comentou, a 8 de Dezembro de 2014 18:50:
    Agradeço o seu escrito sobre a necessidade de dar atenção aos nossos "maiores", sobretudo quando estes se tornam dependentes. É uma área social de grande urgência, não só para defesa dos seus direitos e da sua dignidade, mas sobretudo para os libertar da angústia da solidão, hoje uma das maiores ameaças e que não se resolve com financiamentos, mas apenas com a dádiva de tempo por parte de almas caridosas e fraternas. É uma cruzada de grande fôlego... Já no AT encontramos a recomendação: ..."ampara o teu Pai na velhice"... Mas o individualismo e o egoísmo reinantes não deixam margem para a compaixão e o amor. Tenhamos esperança que este tempo de Sínodo sobre a Família traga nova luz e novas atitudes... Deus não nos abandona.

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