Maria
Celestina Leão Gomes, da Associação
Lopes-Graça, abriu a sessão, começando desde logo por salientar que passaram 20
anos da morte do Maestro exactamente no dia em que o cante alentejano foi
galardoado. Subscreveu o «carácter nacional» das suas canções, que Mário Vieira
de Carvalho lhe atribuíra; citou José Gomes Ferreira: «Lopes-Graça continuará
vivo. A morte é para os mortos!».
Referiu-se à pianista Madalena Sá Pessoa, que acompanhou ao piano a «voz etnográfica» (expressão de Mário Vieira de Carvalho) de Celeste Amorim, no CD/Livro Canções do 25 de Abril e 13 Canções Heróicas, que iria ser apresentado. Madalena Sá Pessoa, de 94 anos, fez questão em estar presente na cerimónia – e foi aplaudida.
Referiu-se à pianista Madalena Sá Pessoa, que acompanhou ao piano a «voz etnográfica» (expressão de Mário Vieira de Carvalho) de Celeste Amorim, no CD/Livro Canções do 25 de Abril e 13 Canções Heróicas, que iria ser apresentado. Madalena Sá Pessoa, de 94 anos, fez questão em estar presente na cerimónia – e foi aplaudida.
O
Presidente da Câmara, Dr. Carlos Carreiras, disse do privilégio que era para
Cascais ter Lopes-Graça há 50 anos (30 em vida e agora 20 anos depois) e ser o
Município fiel depositário do seu espólio no Museu da M´suica Tradicional Portuguesa.
Saudou o Dr. Arquimedes da Silva Santos, ali presente. (Arquimedes da Silva
Santos, recorde-se, natural de Póvoa de Santa Iria (1921) acompanhou Fernando
Lopes-Graça e foi o fundador da Escola Superior de
Educação pela Arte). Aludiu à
notável recolha de cantares do povo que Lopes-Graça e Michel Giacometti, que
foi também este munícipe de Cascais (que igualmente preserva o seu espólio musical),
fez por todo o País, «num tempo em que o tempo ainda passava devagar».
A
I parte da sessão seria completada com a intervenção
do arquitec to Filipe Diniz.
Lopes-Graça, disse, escreveu as canções expressamente para a voz «irrepetível»
de Celeste Amorim e soube adaptar os textos às mãos da pianista. «Canções da
resistência e da revolução », «politicamente
empenhadas», profundamente imbuídas da «realidade comum alicerçada na raiz
popular». Contrapôs essa atitude à dos tempos que ora se vivem, de rasura e
asfixia cultural, da promoção de
«uma cultura de massas desprovida de autenticidade». E exemplificou com o facto
de as televisões, a propósito do cante alentejano, terem passado a Canção do Mineiro, sem se aperceberem de que esta canção é tanto dos mineiros de Aljustrel como dos mineiros
das Astúrias ou do Chile!... A designação
de «heróicas», acrescentou, não poderia ser mais ajustada, porque elas têm
subjacente o sentimento de luta por um mundo melhor através da cultura. Aliás,
Filipe Diniz começara por evocar a figura de José Casanova, afirmando que, em
vez dele, quem deveria estar ali a apresentar o CD era precisamente José Casanova
(membro do Comité Central do PCP que faleceu no passado dia 15).
Uma viagem pelo
país
Iniciou-se
de seguida a prometida viagem «com a canção
regional portuguesa de Norte a Sul», através da música de Lopes-Graça.
Primeiro,
o Coro de Câmara de Cascais, sob a direcção
de Maria Repas Gonçalves. Um naipe de vozes de todas as idades, senhores e
senhoras, de traje preto e longo cachecol vermelho.
Depois,
o Coro Lopes-Graça, da Academia de Amadores de Música de Lisboa, dirigido por
José Robert. Também senhores a senhoras: elas de blusa branca a cair sobre saia
preta, ostentando colares e gargantilhas; eles, de casaco escuro, calças
cinzentas e laço grená.
Ambos
a interpretarem pequenos e mui melodiosos trechos, de sabor genuinamente
popular. Recordo, a título de exemplo, «O ladrão do negro melro», qual hino à serenidade
que se almeja!
Na
III parte ouviram-se quatro canções heróicas, acompanhadas ao piano por António
Neves da Silva. Primeiro, a bem conhecida «Jornada», com letra de José Gomes
Ferreira, pelo Coro Lopes-Graça; depois, «Rústica», também de J. G. Ferreira,
pelo Coro de Câmara de Cascais. «Ronda» (de João José Cochofel), «Canto de Paz»
(de Carlos de Oliveira) e «Acordai» (de J. G. Ferreira) foram interpretadas
pelos dois coros em conjunto, sob direcção
de José Robert. Em brinde extra à assistência, que encheu por completo o
auditório, Maria Repas Gonçalves dirigiu os dois coros na versão do seu Coro
para o «Canto da Paz».
Foram,
de facto, noventa minutos que nos reconfortaram o coração
e nos lavaram a alma. E Cascais bem pode orgulhar-se do legado que teve e assim
mostra que dele é merecedor!
Publicado em Cyberjornal, edição de 1-12-2014:
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