‒ Como estás?
‒ Estou.
Fui operada, estou de baixa. Não tem sido fácil!
‒ E
já arranjaste casa?
‒ Uma
amiga deixa-me viver num dos quartos lá de casa. Não consegui encontrar nada.
Tudo muito caro para as minhas posses.
‒ Que fazes?
Olhou-me
fixamente. Espreitaram-lhe nos olhos duas lágrimas furtivas. Senti que iria chorar.
Peguei-lhe na mão, que apertou a minha – e pediu-me, voz trémula:
‒
Dá-me um abraço!
Apertei-a
contra o peito, numa ternura, indiferentes ambos a quem passava opor nos, gente
atafulhada de compras natalícias na expectativa de confortável ceia em família.
Beijámo-nos. A lágrima rolara-lhe mesmo face abaixo. Baixou o olhar, desejou-me
bom ano, abalou.
Fiquei
pregado no chão, a tomar consciência do que efectivamente se passara. Não conseguira
perguntar-lhe pelo marido, pela enteada a quem eu, aliás, enviara os parabéns
há poucos dias, porque faz anos perto da minha data e eu não esqueço.
Não
tenho o número do seu telemóvel, só o endereço electrónico; mas, egoísta, não
ouso agora perguntar-lhe como vai, como foi o Natal, que perspectivas 2015 lhe
vai trazer.
‒
Dá-me um abraço!
Por
tudo e por nada, enviamos beijinhos. Somos capazes de dizer «Beijinhos!» para a
pessoa a quem acabámos de beijar à despedida. Estereotipado beijinhos!... Nada
que se compare à ternura do abraço amigo, num calor partilhado, numa presença
que nos dois corpos se sente. Preciso urgentemente de voltar a dar-lhe um
abraço! Precisamos mesmo!
Publicado em Renascimento (Mangualde) nº 654,
15-01-2015, p. 12.
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