Ao
todo, mais de 700 pessoas (entre alunos e professores, vários até mais do que
uma vez) estiveram em palco e, na verdade, impressiona o ‘quadro’ final, nos agradecimentos,
em que, desde os mais pequenininhos de três anos (que deliciaram familiares e espectadores)
aos que, de idade mais ‘entradota’ (70 anos), também consideram ser a dança uma
actividade a que com muitas vantagens podem dedicar-se nos tempos livres, dadas
as inúmeras potencialidades que representa como formação total da
personalidade, tanto física como psiquicamente. Só quem não compreende o quanto
a dança contribui para desanuviar da tensão quotidiana e para uma educação
total de crianças, de jovens e de adultos é que se interrogará acerca da sua
utilidade prática nos tempos escalavradamente positivistas em que estamos
envolvidos. Bem anda, pois, o dinâmico entusiasmo de Lucília Bahleixo e seus
directos colaboradores para levarem a bom porto este barco, contra ventos e
adversas marés.
Esse
é, sem dúvida, o primordial aspecto a salientar: o da educação pela integração,
desde mui tenra idade, mesmo para quem se julgue trôpego ou seja diferente –
porque, também aqui, na diferença reside a riqueza!...
Valsas,
bailados clássicos em pontas, salsa, pontapeado, o sempre azougado hip hop, as
sevilhanas vistosas, o orgulhoso flamenco, a sensual dança do ventre… tudo
acompanhado por bem adequada banda sonora e ajustadas projecções visuais
preencheram as duas horas de um espectáculo (assisti à 1ª sessão, das 15.30 h.)
que teve Cristina Pereira como directora de cena, Pedro Rua como director técnico,
Rui Braga na luz, para além, obviamente das maquilhadoras e das figurinistas.
Apreciei
de modo especial o quadro de abertura, dedicado ao enternecedor mistério da
maternidade, protagonizado por uma mãe verdadeira quase no termo da gravidez,
que, assim, em tocante realidade, nos manifestou, dançando, a doçura de trazer
no ventre quem, porventura daqui a uns anos, acabará por pisar o palco também.
Foram
duas horas, num espectáculo em que os quadros se encadeavam uns nos outros, sem
hiatos nem compassos de espera. Doutra forma não poderia ser, para possibilitar
a todos a oportunidade de mostrarem quanto tinham aprendido. E talvez aqui
resida uma reflexão que peço licença para sugerir, atendendo ao enorme êxito
que as Academias Ai! A Dança estão, felizmente, a ter. É que, sobretudo se
pensarmos nos mais pequeninos, duas horas é muito. E como em todos os ‘núcleos’
há as mesmas modalidades, os espectadores vêem-nas repetidas, se bem que com
outros dançarinos (há, sobretudo, dançarinas – e seria interessante uma
campanha para que os jovens do sexo masculino acorressem também…) e com diferentes
figurinos e coreografias. A possibilidade de, em vez de um só espectáculo, em
três sessões (bem sei que têm alinhamento distinto), se pensar em mais é capaz
de ser uma hipótese não descabida.
Mas
que um espectáculo assim ainda merece um aplauso maior isso é que bem no merece!
E é, na verdade, um encanto demorar, por exemplo, o olhar naquela pequenina
além, toda entusiasmada, balançando-se, numa delícia… Pode não seguir exactamente
os gestos e os passos que a professora faz e ela, observando-os, tenta imitar;
pode, a dado momento – tal como o guitarrista que acompanha um fado parte por
montes e vales a ensaiar outros ritmos… –, ir por aí além, em nova desenvoltura…
Mas tenho a certeza de que estar ali lhe deu um gozo enorme, lhe encheu o peito
de orgulho e, nessa noite, dormiu muito melhor e teve sonhos de bailar!...
Publicado em Cyberjornal, 2015-01-13:
Um belo texto que descreve com exactidão o que foi este espectáculo. Amei cada momento que foi único e mágico, dando justiça ao nome em que a luz intensa imanada em cada actuação iluminava o coração da plateia que viajava a par com os protagonistas numa aventura de emoções positivas. Muitos parabéns a todos.
ResponderEliminarBrutal, este texto passa tudo o que se sente quando se ve um expetaculo destes com tantos bailarinos de todas as idades. Pena que não ha-ja mais ajudas para escolas e alunos poderem praticar mais, terem tempo para aprender a parte tecnica...de alguma forma participei no Ai a dança e amei todos os bocadinhos ate aqueles que me fizeram sofrer, porque tornou me mais forte e fez me crescer.
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