Gostei
do livro, da sua estruturação em curtos subcapítulos. Inclusive da sua textura,
do formato, do tipo de letra, do papel!… Um daqueles livros físicos que nos faz
pensar quanto é penoso imaginar que, daqui a uns tempos quiçá, só haverá livros
digitais!...
Inspira-se
o título num provérbio japonês, que constitui, de resto, a epígrafe do volume:
«Ao lado do teu amigo, nenhum caminho será longo». Poderá ‘assustar’ o
subtítulo «Para uma teologia da amizade», na presunção de que estaremos logo
perante dissertações estranhas, alheias ao nosso dia-a-dia. Muito ao contrário!
Acabamos por verificar que, afinal, nos importa cada vez mais fazer silêncio, e
olhar com outros olhos o que habitualmente fazemos. Cita-se, por exemplo,
Claude Lévy-Strauss: «A cozinha assinala a passagem da natureza para a cultura»,
para se afirmar que «a cozinha é o lugar da criatividade e da recomposição», na
sequência de uma estranha frase de Santa Teresa, «Deus move-se por entre os púcaros»
(p. 81)! Isto é, gestos comuns, maquinalmente executados, poderão vir a ser
‘outros’, se forem devidamente integrados em maior atenção.
Onde deixaste os sapatos?
E,
nesse aspecto, conta José Tolentino Mendonça uma história deliciosa. Adestrado
numa filosofia zen, o discípulo prepara-se arduamente pois vai ser examinado
pelo mestre. E, quando chega diante dele, «o mestre pergunta-lhe apenas: “Ao
entrares agora, onde deixaste os sapatos? À direita ou à esquerda do armário?»
(p. 86).
Uma
exortação à alegria, à celebração, «bem-aventurados aqueles que vivem uma história
e a podem contar» (p. 145), porque, na verdade, se «o alaúde foi construído à navalha»,
o certo é que «depois solta uma música incrível». Um hino à liberdade de sermos
nós próprios: «Uma pessoa que dominou a sua vida vale mais do que mil pessoas
que dominaram somente o conteúdo de livros», é citação de Mestre Eckhart, que
determina, de seguida, perspicaz observação: «Parece que temos de viver sete
vidas num dia só, ofegantes, ansiosos, desencontrados e meio insones» (p. 221).
Curiosa,
nesse âmbito, a análise acerca do que nos rouba o tempo: «Os telefonemas que chovem
e se prolongam por coisa nenhuma; os compromissos e obrigações sociais de mero
artificialismo; as reuniões sem uma agenda preparada em vista de objectivos…»
(p. 221).
Alimentava-me
eu, desde há mais de 30 anos, em textos de pensadores como os irlandeses Joseph
Murphy e Emmet Fox ou o americano Merlin R. Carothers, meus livros de
cabeceira. E tenho agora, em português, quem vai no mesmo sentido de nos mostrar
que… vale a pena viver!
Publicado em Cyberjornal, edição de 2015-01-13:
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