As fotografias falam por si do estado de
abandono a que o local está votado. Aproveita-se o espaço plano disponível para
estacionamento e a Rua José Régio foi rasgada e alcat roada
em plena área arqueológica, sem que os arqueólogos tivessem sido consultados,
de forma a se proceder ao necessário acompanhamento arqueológico previsto na legislação em vigor.
Urge,
pois, perguntar: que futuro?
Um pouco de história
A história dos antec edentes que levaram ao processo de classificação e à realização
de sondagens em 1977, 1980, 1981 e 1982, encontra-se contada no Arquivo de Cascais 4 1982 9-27.
O que de mais fascinante detém a villa romana do Alto do Cidreira é, sem
dúvida, a sua excelente localização ,
entre o mar e a serra, donde se desfruta um panorama ímpar. Por isso, uma
família romana decidiu escolher o local, há dois mil anos, para implantar a sua
mansão.
Conhecida a referência a esses
vestígios desde a última década do século XIX, foi a sua localização identificada por Guilherme Cardoso, que aí
dirigiu as referidas sondagens arqueológicas, com vista a delimitar-se a
extensão das ruínas porventura ainda existentes e a determinar-se a sua real
importância histórica.
Essas sondagens permitiram a
descoberta das estruturas de uma rica casa de campo, que teria dois andares,
banhos quentes, mosaicos policromados a pavimentar as principais divisões, uma
ampla sala e todos os cómodos para requintada habitação .
A singularidade dos achados (a minimáscara do negro, o separador de
tear, o dado de osso marc ado, a
enorme abundância de tesselas de mosaico, o relativo bom estado de conservação de algumas das estruturas, com muros de mais de 1 m de altura…); a grande
pressão urbanística; e, de modo muito especial, a consciência de que, pela sua
localização , se deveria pensar num
projecto que preservasse as vistas e servisse a comunidade (numa zona
desprovida de áreas de lazer e convívio) – foram os argumentos:
1º) para se perguntar à Câmara, imediatamente após a realização das sondagens (1982) e antes de se tomar uma
decisão quanto ao prosseguimento (ou não) dos trabalhos arqueológicos, o que é que
desejava propor para o sítio;
2º) para, atendendo à redobrada pressão urbanística, se propor a aprovação de uma ZEP alargada, que viabilizasse a realização de sondagens nos terrenos da envolvente e a
elaboração pela Câmara – em
consonância com os proprietários e os arqueólogos – de um plano de pormenor que
salvaguardasse e valorizasse a villa
e desse ordenamento ao local.
Tapar ou estruturar?
Na sua Reunião
Ordinária de 2 de Outubro de 2006,
a Câmara Municipal de Cascais seguiu esse parecer e
deliberou «propor ao Instituto Português do Património Arquitec tónico (IPPAR) a criação
de uma Zona Especial de Protec ção para a Villa
Romana do Alto da Cidreira. Da mesma forma, a autarquia submeterá a esta
entidade a aprovação do Estudo de
Salvaguarda da área, classificada de Interesse Público.».
Todo esse
processo, porém, se atrasou, e por carta, datada de 2008-02-09, de
resposta ao documento GDCC/2007/75584; Ofº 057958, de 14 11’07, assinado pela
então vereadora da Cultura, Dra. Ana Clara Justino, em que se nos perguntava
que haveria a fazer, respondemos:
«Perante a indecisão camarária e
a inoperância dos Serviços de Fiscalização ,
que nunca ousaram impedir a construção
de edifícios na área de protec ção e mesmo dentro do perímetro classificado, por
várias vezes indicámos que, a continuar assim, o melhor era mesmo tapar as
estruturas, para evitar mais degradações e, inclusive, para impedir que ali
continuassem a ser depositados lixos domésticos das casas vizinhas.
Uma vez que – por mais célere que
seja a negociação em curso no âmbito
do Plano de Pormenor – ainda se prevêem alguns meses mais antes de se poder
programar a continuação das
intervenções com vista a uma eventual musealização
do sítio, a nossa opinião é a de que se proceda quanto antes, sob nossa orientação e com a colaboração
camarária, à cobertura das estruturas, consoante se fez em Miroiços e, também,
em Freiria nas áreas mais sensíveis».
Em conclusão:
Nada se fez e a situação parece continuar num beco sem saída.
Por conseguinte, a sinalização das ruínas; a resolução
dos casos pendentes de regularização
das habitações construídas na área arqueológica; a união de esforços entre os
moradores, a Junta de Freguesia e o Executivo Municipal no sentido de, em
colaboração com os arqueólogos, se
estudar a solução plausível para
recuperação de um espaço que melhor
possa servir a comunidade – constituem, em nosso entender, objectivos passíveis
de se concretizar.
Assim o esperamos!
Guilherme Cardoso
José
d’Encarnação
1 – Sob as ervas, em 1º plano, jaz um dos tanques do balneário romano. |
2 – A estrutura central da casa romana. |
3 – A rua que, junto ao |
4 – Vista de sul de duas das casas erguidas na área de pro uma, imponente e habitada; a outra, embargada há mais de 30 anos. |
Publicado em Cyberjornal , 26-01-2015:
Sem comentários:
Enviar um comentário