Apontava-se,
como factor primordial a favor, a possibilidade de ali estacionarem barcos de
recreio que passassem ao largo da costa e cujos proprietários quisessem
usufruir da proximidade de Lisboa, por exemplo. Também, claro, haveria lugar
para as embarcações dos moradores locais, obrigados, até aí, a deixarem-nas
longe do local onde passavam a maior parte do ano.
Os
aspectos negativos centravam-se, primeiro, no choque ambiental: a descaracterização
de uma paisagem de baía aberta a que de há muito se estava habituado; a
dificuldade em prever o comportamento das correntes, mormente no que se refere
ao arrastamento e deposição de areias, formando novas praias e acabando com
outras, apesar de o projecto ter sido testado laboratorialmente em tanque e
canais de grande dimensão, em condições teóricas extremas, para além de se
haverem tido em conta os registos históricos de temporais na nossa costa. Além
disso, argumentava-se, as águas nunca seriam suficientemente serenas para que
as amarrações não danificassem as embarcações sujeitas a contínuo sobe-e-desce
de nível, ainda que diminuto.
Apesar
de ser a terceira maior marina portuguesa (e talvez até por isso), esses
aspectos negativos acabaram por verificar-se e, de modo particular, um dos recantos
mais idílicos da vila – a enseada de Santa Marta, com a primorosa Casa de Santa
Maria e o farol (cujo enquadramento foi estupendamente reabilitado) e o Museu
dos Condes de Castro Guimarães – esse recanto ficou definitivamente minimizado.
Além disso, o modelo arquitectónico escolhido choca com as vetustas muralhas da
Cidadela. Tornar a marina um novo centro de comércio e de lazer também não foi,
até agora, objectivo conseguido, até porque a taxa do parqueamento automóvel se
revelou cara de mais.
A
concessão da construção e exploração da marina foi adjudicada por 75 anos à
empresa MARCASCAIS, S.A., por contrato celebrado com o Estado Português, a 21 de
Setembro de 1995. Com 648 postos de amarração, que lhe permitem receber
embarcações até 36 metros ,
foi aberta oficialmente a 6 de Agosto de 1999, tendo-se sublinhado, desde logo,
justamente para responder às objecções feitas, que se tratava de um
empreendimento «de grande sobriedade em que as preocupações ao nível do impacte
paisagístico foram estudadas ao mais ínfimo pormenor», acrescentando-se que «o
quebra-mar não retirou à baía nem aos habitantes e visitantes de Cascais aquele
horizonte rasgado sobre o mar ou aquela rusticidade típica desta vila
piscatória» e que todo o património histórico e arquitectónico circundante foi
preservado e integrado cuidadosamente». Reconhece-se, porém, na actualidade,
que urge uma «reconversão da área edificada com vista a melhorar a sua
atractividade».
Cumpre
salientar que – dotada de uma área total disponível para eventos superior a 20.000 m2 – tem sido a
marina de Cascais palco de mui importantes eventos, inclusive à escala mundial,
de que se destacam: as regatas “Swedish Match Tour”, o “Troféu Quebramar
Chrysler”, os Troféus “Juan Carlos I” e “Prince Henry”, a Regata Cowes/Cascais
do RORc, a “America’s Cup World Series – Cascais 2011” , o circuito de vela
“Audi Med Cup” (edições de 2010 e 2011), o Campeonato do Mundo de Vela Olimpica
ISAF 2007.
Constitui,
pois, apesar de tudo, um marco na paisagem e na história desta vila «de reis e
pescadores».*
* Agradeço, sensibilizado, ao meu Amigo Pedro Garcia, um dos rostos da
Marcascais, a amável e pronta cedência de elementos, inclusive de fotos, que me
permitiram elaborar este texto, que é, porém, de minha inteira
responsabilidade.
Publicado em Portugal-Post (Correio luso-hanseático), de Hamburgo, nº 54, Outubro
de 2013, p. 12-13 (versão bilingue: em português e alemão).
Leonor Casaleiro:
ResponderEliminarApesar de tudo, uma boa referência para Cascais. Tem tido o seu aproveitamento, dentro de tudo o que foi possível, e é hoje mais um ponto de reconhecimento, internacional, para Cascais.
Há outros aspectos bem positivos que não foram referidos: a protecção à baía, evitando, 4 a 5 vezes por ano, a invasão de ondas, areias, barcos de pescadores, etc, sobre a avenida e passeios frente à Câmara e ao Hotel Baía... Os pescadores que ficam agora fundeados e em segurança durante todo o Inverno. Há as escolas de vela, bem como as classes de velejadores deficientes, que velejam durante todo o ano... As praias da Rainha e da Conceição que nunca mais foram "rapadas" nem mais precisaram de recargas de areia!...
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