Quando, em 1989, incluímos
no currículo do Curso de Especialização
em Assuntos Culturais no Âmbito das Autarquias a disciplina de Projectos e Realizações
Socioculturais, decerto nem tomámos inteira consciência da dualidade implicada
nesta designação . Na verdade, «projectos»
apontava o futuro; «realizações» privilegiava o que se encontrava em fase de
execução ; estava, porém, implícita
na proposta a ideia de que o «projecto» deveria assumir características
concretas, passíveis de virem a ser transformadas em «realização » num prazo mais ou menos curto.
A
palavra «projecto» rapidamente passou a entrar no quotidiano e, hoje em dia, de
«projecto» se fala nas mais variadas circunstâncias e, até, nos maís inusitados
contextos. Diria que nada se faz sem que venha rotulado de «projecto»: o
artista, ao referir-se ao CD acabado de gravar, concretizou um… «projecto»; à criança
na escola é proposto que… elabore um projecto!
À
generalização do conceito
correspondeu, pois, a multiplicação
de projectos, eventualmente com o correspondente financiamento para a sua
concretização . Só que, mui frequentemente,
essa concretização não corresponde a
uma «realização », dado que «realização » é algo mais: é atingir plenamente os objectivos
projectados. E a Comunicação Social
tem divulgado muito do que se passa, por exemplo, com os parques industriais,
nascidos como cogumelos um pouco por toda a parte e agora ao abandono; excelentes
auditórios sem actividades; bibliotecas óptimas sem frequentadores; magníficos
parques urbanos de que a população
está visceralmente alheada; pioneiros centros de interpretação encerrados por falta de pessoal...
É
bonito reabrir, nomeadamente em proximidade de eleições, duas ou três salas de
um museu equipadas com as mais modernas tecnologias. Interessa mais, no entanto,
que à reabertura corresponda a vontade política e o necessário apoio
administrativo para essas salas usufruírem, na realidade, da vida que para elas
se pensou.
Promoção precisa-se! Mobilizar-se é urgente!
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 626, 01-11-2013,
p. 12.
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