E a senhora, dita
da «sociedade» (pode usar-se a palavra inglesa, que é mais selecto…),
abeirou-se do balcão. Interrogada se queria visitar a exposição de Maria Keil, respondeu que sim, claro. «Posso
entrar?». «Sim, sem dúvida! É só um bilhete?».
Perante
a perspectiva de ter de pagar, embora nem sequer sonhasse quanto, perguntou à senhora
da bilheteira se sabia quem ela era. Que sim, sabia, via-a amiúde nas revistas!...
– E então?
– Perdão!?
– Não tenho entrada de graça?
– Não tenho autorização para isso.
Apeteceu-lhe
acrescentar que ali não havia fotógrafos que a captassem em poses, a mostrar o
vestido que lhe fora emprestado e os sapatos…
E
a senhora da «sociedade», sussurrando que determinada casa de chá da vila donde
viera estava apinhada (percebe?) e a exposição ,
afinal, era um dó d’alma e compreendia-se porquê… (Se calhar, o chá não se
pagava, e, ali, um chá de cultura conviria ajudar a pagar…), a senhora não
entrou, não viu a exposição . Que
maçada!
Não
sabe o que perdeu. Ou melhor, se calhar, mesmo que tivesse entrado, era capaz
de não ter percebido o que ganhara. Desta vez, teve azar, errou no dia da… vernissage!...
Bonito, sim, mas…
Visitei, há dias,
magnífica musealização de ruínas
romanas salvaguardadas sob o casario em pleno centro histórico de uma cidade.
O
projecto implicou o dispêndio de avultadas verbas e foi levado a cabo por mui
conceituada equipa de especialistas.
Abre
ao público uma hora três vezes por semana, que é o período, se bem compreendi,
em que tem furos nas aulas o estudante que disso ficou encarregado!
Um ano e… adeus1
Genoveva
estava há um ano na casa e procurava ser empregada exemplar. Entretanto,
engravidou. No dia em que completou um ano de trabalho, não lhe foi renovado o contrato.
O tom
A
maior parte das vezes, quezílias familiares, políticas e sociais nascem do tom.
Esse é, aliás, um dos treinos maiores dos actores. Mais do que as palavras em
si, o tom em que são proferidas – independentemente até do gesto ou da expressão
facial – denuncia o que por detrás das palavras se esconde e que, amiúde, pode
ser exactamente o contrário daquilo que se acaba de afirmar.
Simples
«bom dia!» permite, pela entoação ,
adivinhar entusiasmo, indiferença, mera boa educação ,
desprezo até…
Ele há gente para tudo!...
Refiro-me não ao
contingente que a seguir se comenta mas ao facto de, cada vez mais, haver quem maliciosamente
ande a espiolhar ‘pormenores’ em que se nos esvai mui cinzento quotidiano…
Assim,
uma das mensagens que me caiu sob os olhos dava conta do quadro de pessoal da
Câmara Municipal de Lisboa, publicado a 24-01-2013, no 2º suplemento ao Boletim
Municipal nº 988 (este dado fui eu pescar, perante a notícia, no endereço http://www.cm-lisboa.pt/municipio/camara-municipal/recursos-humanos/mapa-de-pessoal).
E admirava-se o autor da mensagem
que houvesse a previsão de emprego para 2545
técnicos superiores, entre os quais (retiro eu do quadro publicado): 329
arquitectos, 303 juristas, 261
engenheiros civis, 154 licenciados em História, 144 licenciados em Ciências da
Comunicação, 106 sociólogos, 101
assistentes sociais, 74 psicólogos, 48 geógrafos…
Trata-se de uma grande Câmara, que desta
forma dá emprego a muita gente. Comentava ironicamente o mal-intencionado autor
da mensagem: decerto «trabalham todos arduamente para o meu município». Claro
que sim! E ainda bem que há entidades empregadoras desta envergadura!
Abençoadas! Venham mais! E com dinheirinho!
Publicado em Costa do Sol –
Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 21, 06-11-2013, p. 6.
Antonio Alberto Andrade:
ResponderEliminarÉ sempre enriquecedor para qualquer espírito ler o que escreve e tão bem descreve V. Excelência.
E eu agradeço a gentileza das suas palavras, meu caro António.