Curiosamente,
diz-se vulgarmente: «Tudo tem um preço!». Foge-nos a boca para «preço» e
poderia, de facto, na mesma ordem de ideias, afirmar-se que «tudo tem um
valor». Neste caso, porém, quer realmente acentuar-se o carácter mercantil, aquilo
que se compra e se paga.
Recordei-me
de imediato do cenário das eleições e do período que imediatamente as antecede.
Aí, sem dúvida, é a palavra «custo» a mais usada. Preferiríamos que fosse
«valor». Mas não é. E não há volta a dar-lhe, enquanto vogarmos neste mar
encapelado do paradigma capitalista em que os ditos ‘governantes’ europeus
teimam em querer fazer-nos naufragar. Não lhes bastam os que vêm lá das costas
africanas e sofrem rombo de morte à vista de Lampedusa. Querem mais!...
E essa
dicotomia do custo face ao valor fez-me lembrar também duas informações
recentes:
– A
publicidade ao jornal Folha de S. Paulo:
«O jornal que mais se compra e nunca se vende»!
– E a
inteligente reflexão a propósito da origem etimológica de duas palavras do
nosso quotidiano: «mestre» (professor) e «ministro». Deriva o primeiro da
palavra latina magister,
que vem, por sua vez, do advérbio magis,
que significa "mais" ou "mais do que". «Na antiga Roma»,
rezava a mensagem que me chegou e eu confirmo, «o magister era o que estava acima dos restantes, pelos seus
conhecimentos e habilitações»; havia, por exemplo, um magister equitum, chefe de
cavalaria, e um magister militum,
o chefe dos soldados; daí vem igualmente a palavra «magistrado». Por seu turno,
o vocábulo "ministro" vem do latim minister e este formou-se a partir do advérbio minus, que significa exactamente o
contrário do anterior, ou seja, "menos" ou "menos do que".
E explicita-se: «Na antiga Roma, o minister
era o servente ou o subordinado que apenas tinha habilidades ou era jeitoso». A
diferença entre ser ministro e ser mestre! A diferença entre o custo e o valor
– será?
É
sempre, pois, a mesma questão: de um lado, pugnamos pelo valor; do outro,
regateia-se o custo!
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 627, 15-11-2013,
p. 12.
Caro José d'Encarnação:
ResponderEliminarPois é... os ministros administram-nos evidências, para eles minudências, sem a menor moral, e os mestres não exercem a sua magistratura, admoestando-os de modo magistral...
Margarida Sobral Neto escreveu: "A origem etimológica das palavras esclarece e põe a nu algumas verdades. Precisamos de mestres a exercer as funções dos ministros."
ResponderEliminarVanda Amaro Jardim Fernandes:
ResponderEliminarGosto imenso desta reflexão,mui pertinente e clarificadora!
Leonor Casaleiro:
Aprendi com a sua explicação. Infelizmente, no dia a dia, percebemos que poucos sabem que valor não é custo. Obrigada Zé.
Jose Fernandes Soares escreveu: "Apenas uma nota, meu caro prof. Não se regateia o custo, mas o preço. Preço e custo são duas coisas distintas em economia. O valor é uma noção subjetiva: é o que uma pessoa está disposta a pagar (preço) pela coisa desejada. Uma pessoa que valorize uma coisa muito, está disposta pagar muito por ele. Assim, quando regateamos o preço, estamos de facto a estabelecer o preço da coisa- aquilo que ela vale realmente para os intervenientes na transação. Se os intervenientes não se entenderem não há preço, nem valor. Desculpe-me esta incursão nos rudimentos da economia. Abraço."
ResponderEliminarNão tens que pedir desculpa, porque aprendemos sempre contigo, meu caro Zé. Acontece, porém, que nos movimentamos em campos diferentes; tu no da Economia e Finanças, eu no quotidiano das pessoas. Os «governantes» também andam por esse e não por este. (Repare-se que pus «governantes» entre aspas e não acrescentei nenhum adjectivo!).