quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O enriquecimento pela diferença!

             Seriam duas ou três, já nem sei, quiçá dez, porque muito tempo passou. Fiquei com a ideia de que tinham um sonho – «O Nosso Sonho» –, eram jovens integradas numa ILE (Iniciativa Local de Emprego), todas com poucos recursos económicos... Haviam encontrado vetusto casal desocupado, daqueles de traça saloia, no coração de Tires e estavam dispostas a fazer pela vida, em cooperativa.
            Gostei logo delas, da sua vontade ímpar de se implantarem numa aldeia do interior do concelho. Creio que o primeiro contacto que fizeram comigo foi para saberem se ainda havia algum exemplar da História e Geografia de Cascais, cuja 3ª edição datava de 1979, pois lhes interessava enraizarem-se bem no tecido social onde pretendiam trabalhar como educadoras. Gostei. Num momento, já então, em que se começavam a evidenciar mais as assimetrias e os jardins de infância eram necessidade sentida, querer criar fundas raízes era muito bom sinal.
Pouco a pouco, o velhinho casal ganhou vida, rejuvenesceu, fruto de um querer sem limites, de um dinamismo sem par, de uma fantasia enriquecida dia a dia.
Tive a dita – tenho a dita! – de acompanhar, quase diria a par e passo, o desabrochar permanente e o esplendor perfumado desta flor, sempre fortalecida pelo vento agreste das dificuldades superadas, sempre bafejada pelo calor de um Sol que não esmorece, sempre amorosamente cuidada por diligentes mãos de afecto.
Depressa as meninas se aperceberam do mundo que as rodeava, num concelho oficialmente feliz e progressivo. Ali, demasiadas vezes, não. Por isso, cedo optaram por uma divisa, haurida num Saint-Exupéry cujo principezinho as deliciara tanto ou mais do que a mim: pela diferença nos vamos enriquecendo!... Muitas diferenças havia, de facto. E que diferenças! Era preciso ensinar a ver a realidade, aceitá-la como era. Urgia ensinar a pensar, a criar, a sonhar!...
Assim, as diferenças acabaram por se atenuar no quotidiano e todos, independentemente do meio donde vinham, ali tinham berço, carinho, aprendizagem, todas as aprendizagens!
Cresceu o Sonho, nas asas sempre de uma imaginação incontida – que diariamente revejo e me encanta na quente monotipia a que, um dia, as mãos da Joana e da Carolina, ambas de 6 anos, deram cor, para alegrar o corredor do meu quarto! Também eu, dia após dia, há anos, com elas estou a crescer!

Alocução evocativa da actividade da cooperativa «O Nosso Sonho», de Tires, proferida, a 25-03-2012, por ocasião da comemoração dos 25 anos de «O Nosso Sonho».
Insere-se hoje aqui, 27 de Novembro de 2013, dia do 22º aniversário da Ideia (Instituto para o Desenvolvimento Educativo Integrado na Acção), entidade que lhe está intimamente ligada – em jeito de homenagem a uma acção educativa altamente meritória em prol das gentes da freguesia de S. Domingos de Rana.


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