Palmilhou-o
miudamente em todas as direcções, na busca dos mais ínfimos vestígios de um passado
remoto. Completou a leitura do terreno com muitas leituras outras, desde artigos
da especialidade que a ajudaram na identificação
desses vestígios (objectos ou estruturas) a livros de História geral, detendo-se
com mais pormenor, como não podia deixar de ser, nas obras que directamente se prendiam
com a história local e regional. Obteve, assim, amplíssima bagagem não apenas
para o enquadramento histórico da ‘sua’ Calçadinha (seguramente, a ‘menina dos
seus olhos’), mas para colocar Alportel e S. Brás e S. Brás de Alportel no contexto
da história portuguesa.
Com
tantos conhecimentos adquiridos, não é fácil propor uma viagem breve por esses
meandros da História. Dizer dos materiais líticos pré-históricos; da sítula romana
de bronze e do epitáfio da ossonobense Cecília Marina; dos topónimos árabes e
do poeta Ibn Ammâr; dos primeiros tempos medievais perdidos na noite dos tempos;
de uma S. Brás, aninhada no debrum da Serra, que parece nada ter reagido à
epopeia dos Descobrimentos (tudo lhe passará ao largo, parece… Escravos
vendiam-se em Lagos, não por ali)… Houve, porém, palácio aonde vinha veranear o
senhor bispo do Algarve quando a sede episcopal saiu de Silves e veio para a
vizinha Faro – e esse é, porventura, um mote a futuramente potenciar: «Até os
senhores bispos apreciavam nossos ares!».
Realça-se
o papel excepcional que a produção
da cortiça desempenhou, quer como fautor de liberta ção em relação
a Faro, quer, de seguida, sobrevindo a crise, qual motor de migração para terras alentejanas ou da Beira-Tejo, onde esse
gérmen o génio são-brasense lograra auspiciosamente fazer desabrochar.
Dos
canteiros pouco se fala; contudo, ao propor itinerário pelo centro histórico e
também pelos sítios derredor, não se esquece Angelina Pereira de chamar a atenção para o lavrado das cantarias, uma das pérolas
que abraçam dois monumentos prenhes de história: a secular igreja matriz e o
assombroso Museu do Trajo, assim chamado por ter nascido de uma colecção de trajos, mas que é, na actualidade, escrínio
onde se guardam e se revitalizam mui ancestrais tradições!
Alvejam
ainda nos cumes, aqui e além, o moinho branco e o preto, aos pares; por entre
os bem variegados verdes vegetais, assoma-se rendilhada chaminé datada; junto à
ermida de S. Brás pernoitariam outrora os romeiros, antes de se abalançarem à
penosa travessia da Serra; e nas fontes, ora de cara lavada, há lugar para a
necessária pausa dum frenesim quotidiano: «Não sei se cantam, se choram / As
fontes, correndo ao mar; / Se canto, sinto que cantam; / Mas, se choro, oiço-as
chorar!»…
Por
aí vamos, pois, com Angelina Pereira, em demanda do que, na verdade, não nos
deixará de surpreender.
Breve
a história, sim; demorada será, porém, sua saborosa degustação !
José d'Encarnação
Prefácio a Breve
História de S. Brás de Alportel, de Angelina Pereira, Edição da Câmara
Municipal de S. Brás de Alportel, Abril de 2015, p. 9-10. ISBN:
078-989-96916-3-6.
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