A
cena é agora evocada no espectáculo que Filipe La Féria preparou para o Salão
Preto e Prata. Chama-se «A Noite das Mil Estrelas» e visa recordar, como que em
rápido filme, quem foram as «estrelas» que, nas últimas décadas, tiveram gala
na que foi – e, de certo modo, ainda continua a ser! – a privilegiada sala de
espectáculos internacionais da Grande Lisboa.
Em
meados do século passado – dos anos 60 a 80, grosso
modo (que me seja perdoada a preguiça de não ir aos arquivos ver datas
correctas…) – o espectáculo no Casino obedecia a um esquema mais ou menos fixo:
havia um corpo de baile (quem há aí que se não lembre das Bluebell Girls?!...),
um artista estrangeiro, o momento do fado (imprescindível, porque os turistas compravam
amiúde a estada num hotel da zona com ida ao espectáculo do Casino incluída),
um momento de artes circenses (malabarismo, ilusionismo, transformismo,
acrobacia... Enfim, um espectáculo variado, em que se procurava satisfazer bem
diversificado leque de interesses.
O
espectáculo era, aliás, pontualmente publicitado na imprensa local, porque se
considerava não ser apenas para os forasteiros mas para os residentes também,
até porque o Casino era sala de visitas, aonde se podia ir (por exemplo) com a
pequenada numa tarde de domingo, o «jardim de Inverno» apresentava-se acolhedor,
sítio óptimo para uma conversa de café e mui agradável convívio. Tenho presente
o anúncio publicado a 23 de Julho de 1980: havia o wonder-bar com strip-show,
as matinés dançantes com show (aos
domingos e feriados) e o salão-restaurante, onde as estrelas eram «Les Girls»
(da Grieg’s Revue), Natalina José e Claus Beckers and Partner. E, a 16 de Abril
desse mesmo ano, anunciava-se, numa produção de José Montes, o High Society
Ballet de Nelo Losada, Mahogany, as vedetas da TV inglesa The Dougal’s e Marina
Rosa como artista portuguesa. Para a passagem de ano, a 3500$00 por pessoa
(bebidas não incluídas), a escolha foi Amália, presença, aliás, assaz frequente
no Casino e, de modo especial, no réveillon.
E já agora, diga-se que, para essa mesma noite, Nicolau Breyner esteve no Hotel
do Guincho e Rodrigo no Estoril-Sol, as duas unidades hoteleiras que faziam
parte integrante da concessão do Jogo.
Mário
Assis Ferreira viria a introduzir espectáculos temáticos, em que Júlio César actuava
em jeito de compère. Evocou-se a
gesta marítima portuguesa (já o disse); celebraram-se Mozart, Picasso… e até as
1001 noites, sendo mil (como no espectáculo de La Féria) as muitas que por
aquele salão haviam passado e a uma era a que então se concretizava.
Usa
Filipe La Féria de todos os ‘mecanismos’ de que então se dotou o palco do Salão
Preto e Prata: as plataformas que inesperadamente sobem e descem; os
equilibristas que vêm do tecto sobre a cabeça dos espectadores, as imensas
potencialidades da luminotecnia…
Não
nego que me emocionou esta «Noite das Mil Estrelas» – como, de resto,
emocionará a quantos tiveram a dita de, como eu, usufruírem, ao longo de anos
(já lá vão alguns, de facto, inclusive desde os tempos do «casino velho»…), das
belezas que ali nos foram proporcionadas. Recorde-se, a propósito de beleza,
que era ali o palco do concurso de Miss Portugal, sob a batuta de Vera Lagoa. E
não poderei esquecer um dos últimos anos, em que foi pedido aos jornalistas que
escolhessem a Miss Imprensa e nos puseram bem lá para os fundos (então, o salão
não tinha o que hoje chamamos de «patilhas»…). Insurgimo-nos, ainda me lembro
bem das razões do José Manuel Fialho Gouveia (então no Rádio Clube Português) –
e nessa noite não houve Miss Imprensa, perante o grande desgosto de Vera Lagoa.
Discutir-se-á
sempre – quando há tanto por onde escolher – se a selecção foi a melhor. Cada
um faria a seu jeito. Mas está bem o enquadramento inicial do Casino na gesta
de Teodoro dos Santos, a ligação ao facto de o Sud-Express ter no Estoril a sua
estação terminal vindo de Paris, a recordação dos corsos carnavalescos (ah! A
girafa de Dali de 1964!... E os artistas de cinema que eram os «reis»!...).
No
fundo, em pinceladas fugazes, mas bonitas e oportunas, servido por bons
artistas e mui excelentes vozes, pode ser este o retrato da sala de espectáculos
em que a Costa do Sol se revia e ora torna a rever-se, nessa evocação. Que,
senhores, o Casino Estoril nunca foi, de facto, na concepção dos seus
proprietários, mero local de jogo: a diversão qualificada e as manifestações
culturais sempre estiveram aí presentes. E Filipe La Féria captou bem essa
mensagem.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 93, 20-05-2015, p. 6.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 93, 20-05-2015, p. 6.
Teresa Silva, 20/5 às 22:25:
ResponderEliminarO La Féria é o nosso génio produtor de verdadeiras magias! E tem uma simpatia muito especial: gosta da proximidade com o público, o que é sempre encantador!