Encenou
Carlos Avilez o texto que Carlos Carranca
e Miguel Graça prepararam. Passagens dos Diários,
poemas, excertos de peças como Sinfonia, Mar,
Terra Firme e Paraíso, revitalização
de episódios vividos… Tudo envolvido em intenso halo poético, sereno, inserido
em despojado cenário, povoado apenas de sugestões, onde a Palavra campeia, os
bancos são paralelepípedos caiados de branco, a prisão uma grade apenas…
Pelo
caminho, aqui e além, as mensagens, as ideia s;
alguma raiva, até, contra um desconcerto real que ao Poeta, ao Homem e ao Cidadão
não agradava nada.
Escreveu
Carlos Avilez que achou «importante iniciar as comemorações dos cinquenta anos
do Teatro Experimental de Cascais com um texto deste grande poeta»,
acrescentando que se relembra aqui «a condição
inequívoca da Poesia, povoada de poetas desajustados, marginais, que procuram a
razão de ser da sua existência, seres que dão à luz e vão morrendo. Mas… um
Poeta não morre».
E,
na parede dos fundos, vão aparecendo rostos, de vez em quando, a relembrar os
que já passaram ou os que fizeram o TEC: «Com este espectáculo homenageamos […]
alguns dos actores que […] me têm acompanhado nesta enorme aventura» – são,
ainda, palavras do encenador.
E
Carlos Carranca comenta, por seu
turno, no texto do programa, que Miguel Torga viu no homem civilizado «o
símbolo da degradação existencial» e
que, em farsa, o ‘bicho homem’ afirma
«a sua liberdade, ganhando a vida a perdê-la».
Vão
bem os actores. Aprecia-se o monólogo de Domingos, o pescador que, na peça Mar (que o TEC levou à cena, no Gil
Vicente, em 1966), conta como uma sereia lhe apareceu, um dia. Gosta-se de
Teresa Côrte-Real, taberneira, uma interpretação
ímpar, ao seu melhor jeito. Mas regista-se, acima de tudo, um verdadeiro
achado: o saxofone de Eduardo Abreu, em palco, a acentuar, em escassos segundos
(dir-se-ia), qual coro de tragédia grega, esta ou aquela fala, este ou aquele
passo. É um calor bom, singelo mas bom, de mui excelente recorte. Parabéns!
José d’Encarnação
José d’Encarna
Publicado em Cyberjornal, edição de 13-05-2015:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=1495:o-poeta-morreu&catid=20&Itemid=30
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