Sempre
a temática cultural foi timbre desse projecto e a minha colaboração tem ido no sentido de dar a conhecer monumentos
romanos do concelho que, pelas suas características, possam despertar
interesse. É a Epigrafia a minha especialidade e, por isso, nesse domínio me
situo. E, para recomeço, nos primórdios de um ano, em que se fazem votos de
bem-estar, a primeira ideia que me ocorreu e que ora partilho é a de referir o
achado, na villa romana de Freiria
(S. Domingos de Rana), de um altar com a seguinte inscrição
nele gravada:
T · CVRIATIVS ·
RVFINVS ·
L · A · D ·
Trata-se
do que chamamos um ex-voto, ou seja, em resultado de uma promessa ou fruto de
uma pulsão íntima, alguém consagra a uma divindade um objecto, neste caso, a
miniatura de um altar de sacrifício, fundamentalmente para obter a protec ção
divina.
Como
frequentemente acontec e nas
inscrições da actualidade, há palavras que vêm em siglas, não só para se poupar
espaço (e consequente diminuição do
custo da encomenda), mas também porque se trata de palavras facilmente
compreensíveis no contexto. Assim, a primeira tarefa do epigrafista é fazer o
desdobramento dessas siglas, para apresentar depois a respectiva tradução :
TRIBORVNNI
/ T(itus) · CVRIATIVS · / RVFINVS · /
L(íbens) · A(nimo) · D(edit) ·
A Triborunis. Tito Curiácio Rufino ofereceu
de livre vontade.
Que
estará, portanto, ‘por detrás’ destas singelas linhas?
Reservando
para outra oportunidade a reflexão sobre o nome da divindade e sobre a
identidade do dedicante, direi que interpreto desta forma este monumento: aqui
chegado, vindo mui provavelmente da Península Itálica, logo nos primórdios do
século I da nossa era, Tito Curiácio Rufino verificou que este era um bom local
para se estabelecer com os seus familiares. Não ousou, porém, mexer na terra
sem pedir a prévia autorização à
divindade que, em seu entender, a protegeria. Terá perguntado o nome aos
indígenas que por aqui já viviam. Percebeu Triboruni,
palavra que nunca ouvira, mas lá mandou gravá-la assim mesmo na miniatura de
altar que desejava oferecer.
Cumprido
o ritual, estabeleceu-se em Freiria.
José d’Encarnação
Publicado em Ecos
do Costa (Boletim Informativo do Clube Desportivo da Costa do Estoril), nº
31, Abril 2015, p.11.
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