Não
consigo acertar com essa tal de AT
autoridade tributária e aduaneira. Assim, em letras minúsculas, como, ao
que parece, deve mandar o tal Acordo Ortográfico. E será que Acordo Ortográfico
tem direito a maiúsculas? Eu cá acho que não.
Voltando à AT:
já devolvi umas dez vezes a correspondência que me chega às mãos referente a um
contribuinte e a uma contribuinte, ao que parece, moradores, outrora, em determinada
casa. Escrevi em letras garrafais e sublinhei: A
DEVOLVER AO REMETENTE. DESCONHECIDO NESTE ENDEREÇO, como mandam as
regras. Aliás, também já se fora à correspondente repartição
da AT com o sobrescrito em mão e se explicou.
Então não é
que o ‘computador’ não funciona e ainda não conseguiu dar baixa desse endereço?
Ou, se calhar, a máquina segue aquela regra da «água mole em pedra dura…», que
é como quem diz: «Qualquer dia, a pessoa vai lá, abre a caixa do correio (de
que já não tem chave…) e descobre que andamos à procura dela!». Como se ela e
ele não soubessem que a AT lhes anda no encalço!...
Como cidadão,
porém, estou eu próprio a começar a ter dúvidas: vale a pena eu devolver a
carta aos correios? Tiro a senha, espero que me atendam, para… nada?... Começo,
de facto, a andar com o meu espírito cívico muito por baixo, confesso…
Não se incomoda?
E poderá vir a
talhe de foice outra história de há dias.
O avião ia levantar
voo e eu até tinha ganas de ver de novo como é que estava o Mar da Palha nesta
altura do ano. Haviam-me dado um lugar B e só poderia espreitar a paisagem se o
vizinho do A deixasse. E não é que, sem mais nem menos, ele me fechou a
portinhola na cara? Nem uma palavra! Fechou e… pronto!
Ensinaram-me
pais e professores que, numa circunstância dessas – de janela para duas ou três
pessoas – se deveria perguntar «Posso?», «Dá-me licença?», «Incomoda?». Como se
faz no alfa ou no intercidades, onde não sabemos se, naquele momento, a pessoa
da frente ou a de trás quer ver as vistas que nós estamos fartos de ver, embora
o sol nos esteja a dificultar a visibilidade do ecrã do computador. Não. O
senhor fechou, está fechado. Logo verá para a próxima!...
Não se incomodar
Essa do não se
incomodar fez-me lembrar outra peripécia destes últimos dias, na Escola
Hoteleira do Estoril.
Tem a Escola
Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril um grande «problema», se bem compreendi:
vive em instalações arrendadas à Escola Média e quem pertence a esta nada sabe
daquela ou, pelo menos, faz de conta que não sabe. Rara foi a vez que eu fui à
Escola Superior que não tenha apanhado pela frente alguém da Escola Média e que,
peremptoria mente, ao pedir-lhe uma informação , não me haja respondido: «Não sei, isso é da
Escola Superior!».
Faz-me lembrar
(desculpe-me, leitor, este encadeamento) quando estamos em Bruxelas: se na zona
francesa, caso te dirijas a um agente público em flamengo, diz logo que não
percebe nada – e vice-versa. A mim já me acontec eu
com o revisor dum transporte público: o senhor só percebia flamengo na zona
flamenga e francês na zona de língua francesa. Achei o máximo!...
Mas vamos ao
caso da Escola Superior. Eu ia para um júri. A porta principal estava fechada,
por obras. Indicou-me um estudante a entrada pela garagem. Andei às voltas
entre cacifos, ia entrando numa cozinha, até que encontrei um segurança (acho
que é assim que se chama…) que andava de um lado para o outro, na plataforma de
um piso . Azar: era da Escola Média e
nada percebia da Superior. Mandou-me para uma porta envidraçada, que ele
(decerto já andava por ali, dum lado para o outro, a manhã inteira…) ainda se
não apercebera que também estava em obras. Dei com o nariz nos vidros. Voltei a
falar com o senhor, que me indicou outra porta de saída e, depois de mais umas
voltinhas, lá consegui chegar a um balcão. A senhora também não sabia muito bem
onde era a sala para que eu fora ‘requisitado’ e, ingenuamente, perguntei-lhe
se não haveria por ali à mão de semear um telefone interno que a pudesse pôr em
contacto com a direcção da Escola Superior,
a dizer que estava ali um professor convocado para uma reunião e que já deviam
estar à espera dele (entretanto havia passado quase um quarto de hora…). Resolveu-se
o problema com o telefonema e uma senhora mui simpática do secretariado da
Superior lá me encaminhou para a sala.
De regresso a
casa, revivendo a situação , dei comigo
a perguntar-me: com tanta falta de emprego, não haverá quem pense que civismo,
brio profissional, atenciosidade, boa disposição
são condimentos indispensáveis para se manterem no ganha-pão que ainda
conseguem ter? E… essas ‘coisas’ já não se aprendem?
Publicado
em Jornal
de Cascais, nº 327, 05.12.2012, p. 6.
Sem comentários:
Enviar um comentário