Foi
o também conhecido covilhanense João de Jesus Nunes que pôs mãos à obra, para
que se não olvidasse a memória de quem tão precocemente viria a falecer
(11.11.1906 – 6.10.1969). Depois das palavras do presidente da autarquia (que
recorda, entre outras facetas, o apoio recebido de Ernesto Cruz, como
filatelista); do prólogo, em que o autor explicita as dificuldades havidas em
traçar esta biografia; e da evocação feita por uma das suas filhas, Maria Leonor
Cruz, entra-se no retrato do Homem, do Desportista e Dirigente, do Industrial, do
«Homem de Negócios sem Medo», do Humorista (sempre de resposta pronta e
bem-humorada). Dá-se conta do que foi a empresa que criou, das vicissitudes por
que passou, do empreendedorismo de que deu provas até à morte, desaparecimento que
– apesar das boas vontades emergentes – acabaria por arrastar, também por mercê
das circunstâncias conjunturais adversas, o encerramento da unidade fabril em
1990, «com o corte de energia eléctrica pela EDP» (p. 29). Esta frase lacónica
esconde, naturalmente, todo um mundo de adversidades ocorridas e que não se
lograram vencer. Ficou, pois, o nome do empreendedor, «multifacetado», «gerador
de amizades», exemplo a seguir e a honrar.
O
livro, bem ilustrado, não termina, porém, na p. 33, com a fotografia do biografado.
É que João de Jesus Nunes dedica as páginas seguintes (p. 36-51), sob o título
«A Covilhã e a indústria têxtil, uma realidade», a compilar uma interessante
série de depoimentos e de documentação de variada cronologia, que constitui,
certamente (e estamos em crer que sim, mormente se se cuidar de melhor
explicitação da bibliografia, aqui incompleta), um esboço do que poderá vir a
ser uma história mais organizada e completa do relevante papel desempenhado
pela actividade têxtil na «Manchester portuguesa».
Há, pois, que
não esmorecer e meter ombros à tarefa. Cita-se, por exemplo, quase ao correr da
pena, o testemunho de João António de Carvalho Rodrigues da Silva intitulado Memoria sobre o
estado actual das fabricas de lanificios da villa da Covilhã, e das causas, que
retardão a sua ultima perfeição, offerecida a Sua Alteza Real o Principe
Regente Nosso Senhor (Lisboa: Impressão Régia, 1803).
Sei que é obra não esquecida e amiúde citada; seria, porém, de bom augúrio que esta
feliz iniciativa da autarquia local, ao realçar o dinamismo de um dos seus mais
vigorosos empresários, a outros incitasse não apenas ao circunstanciado estudo
da história local mas também a fazer frutificar tão reconfortantes exemplos!
Publicado no
jornal Gazeta do Interior [Covilhã]
nº 1249, 21-11-2012, p. 14.
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