Mário Assis Ferreira, o director,
reconhece o paradoxo; no fundo, porém, não podemos deixar de concordar com ele:
há no gesto altruísta sempre um pouco de egoísmo consubstanciado, mais não
seja, na satisfação pessoal que sentimos em ser altruístas.
Em formato pequeno, mas sempre com excelente
design gráfico (a cargo de Joana Miguéis), traz este volume textos de Vergílio
Ferreira, José Luis Peixoto, Carlos Câmara Leme… Patrícia Fonseca dá conta dos
«maiores filantropos do mundo»; seleccionaram-se imagens da exposição «Black,
red and white magic», de João Noutel, que esteve patente no Casino Lisboa; fez-se
o mesmo em relação à exposição de Hugo Pratt sobre Corto Maltese na Fundação Eugénio
de Almeida, em Évora.
Retive, da «Carta ao Futuro» de
Vergílio Ferreira, esta passagem que reputo eloquente:
«A profunda fraternidade – tu o
saberás, meu amigo – não é uma cadeia de braços, mas uma comunhão do silêncio,
uma comunhão do sangue» (p. 47).
Há, porém, uma «pequena grande história», recortada do
relato «de um jornalista que se comoveu e viu o mundo de forma diferente depois
de ter conhecido o Miguel». Cinco imagens legendadas. A premiara, a de uma
camisa abotoada:
«Esta camisa não a visto sozinho. Não consigo. Repara
que não é uma queixa. Ser tetraplégico e cego por acidente é apenas isso, um acidente».
Outra, a de carcomida porta, uma porta aberta:
«Uma porta aberta é olharem para mim sem preconceitos.
[…] Preciso que sejas uma porta para a rua que não vejo e que me relates em
pormenor a tua viagem até aqui. Não te esqueças de nada».
Não te esqueças de nada… E nós, quanta vez, a
esquecermo-nos de tanto!... – pensei com os meus botões e fiquei de olhos
pregados naquela porta (entre)aberta…
Publicado
em Cyberjornal, 2012-12-16:
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