Maravilha porque – sob a mui singela
aparência de um livro de mercearia, atado por um cordel (ai, as difíceis contas
do dia-a-dia!...) – esconde uma série de mui notáveis reproduções de quadros,
onde nos é difícil discernir o que mais nos pode encantar. Se são admiráveis os
premiados na galeria do Casino da Póvoa desde 2006 a 2012 (onde figuram
nomes como Nikias Skapinakis, Júlio Pomar, Graça Morais…), não menos nos seduzem
o fulgurante realismo das personagens do italiano Michele del Campo, colhidas
na fugacidade do tempo (em StreetView);
a enorme e espantosa expressividade dos desenhos a lápis do estónio Heikki
Leis, em vigorosos retratos de um momento da higiene matinal; a beleza sensual
dos rostos femininos da americana Alyssa Monks…
São também retratos («portraits») o que se apresenta da
suíça Chrissy Angliker e é o calafrio que nos transmite essa tinta a escorrer
de pensativas cabeças que nos leva a reler o magnífico texto introdutório de
Assis Ferreira, verdadeiro anátema contra o estado a que a Humanidade chegou,
apontando, porém, soluções: este Natal escasso «em dádivas materiais» pode ter
– deve ter! – uma compensação nos afectos; será «mais rico em entregas pessoais,
em comunhão de sentimentos, em partilha de esperanças», pretexto óptimo para
que, finalmente, haja uma «celebração do Ser, em detrimento do Ter»!...
Daí, a escolha do tema, porque «a Arte nos humaniza».
Arte que «não é, necessariamente, um espelho para reflectir as agruras deste
nosso mundo; bem ao contrário, é um cinzel que nos ensina a esculpi-lo, é um
escopro que nos ensina a moldá-lo».
Para rever, pois, pausadamente, as imagens e o que
elas nos transmitem. Para reler, uma e mais vezes, essa reflexão inicial – que
nos conforta!
Publicado em
Cyberjornal, 30-12-2012:
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