Meu
tio acabou por nunca singrar grandemente na vida, deixando habitualmente que
outros decidissem por ele, sem um espírito de iniciativa que, ao contrário do
que poderia pensar-se, não nasce connosco, aprende-se!
E
lembro-me muito dessas frases de meu pai, hoje, noutro contexto, porque no
familiar, felizmente, a regra tem sido sempre a de deitar o cãozinho à água que
ele aprende a nadar ou aqueloutra máxima, que dizem atribuir-se à sabedoria
chinesa, «Ao pedinte não dês um peixe, dá-lhe a cana para ele o ir pescar!». E essoutro
contexto é o da escola, porque os nossos ‘meninos’ têm a cana, mas… não os
ensinamos a pescar!
Exemplifico.
A
mestranda entregou-me uma página do trabalho de casa onde havia palavras a azul
e sublinhadas. Interroguei-a acerca do significado do azul e do sublinhado. Não
sabia, entaramelava-se-lhe a língua nas respostas que me dava, até que confessou:
«Professor, era assim que lá estava!». Expliquei-lhe o que era um «link» e o
incidente permitiu larga conversa sobre a necessidade urgente de usar com inteligência
os dados fornecidos pela Internet. Temos, aí, um manancial enorme, ia a dizer
«infinito», cardumes e cardumes de peixes… Mas esse ‘peixe’, para ir à mesa
como apetitoso acepipe, carece de ser… amanhado. E, para o amanhar, há que pensar
primeiro que prato vamos preparar. O peixe, hoje, pode ser, na verdade, a
Internet; mas o mais importante é que a cana funcione a rigor e o espírito de
crítica e de reflexão estejam totalmente despertos!
Note-se:
eu escrevi «despertos» e não «espertos» – que ele há muito quem queira pescar
em águas alheias estranhos peixes que não lhe pertencem e depois sai daí uma
caldeirada sem jeito nenhum! Que também para uma boa caldeirada é preciso saber
dosear condimentos e bem apaladar os temperos! Oh! se é!...
Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 605, 01-12-2012, p. 3.
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