sexta-feira, 24 de abril de 2015

A turbulência na Academia foi explicada!

            Na presença de meia centena de amigos do autor e no vetusto aconchego dos baixos abobadados da centenária Livraria Ferin (desde 1840, na Lisboa pombalina!...), foi apresentado, ao final da tarde de quinta-feira, 23, Dia Mundial do Livro, o mais recente romance de Júlio Conrado: Turbulência na Academia do Amor.
            João Paulo Dias Pinheiro, em nome desta livraria resistente numa Baixa «desertificada», deu as boas-vindas e regozijou-se por a apresentação coincidir com um dia em que, pela Baixa, se espalharam bancadas a incitar à leitura. Baptista Lopes, em nome da editora, Âncora, saudou os autores presentes e disse do seu agrado em poder continuar a ser editor em época de tamanhas resistências.
            A escritora Teolinda Gersão fez a apresentação. O leitor, sublinhou desde logo, ficará admirado com este livro-surpresa, pelas múltiplas pistas que sugere, pela multiplicidade de personagens (de repente, entra um de quem não estávamos à espera e ganha posição no palco…), pelo «muito que deixa à imaginação» de quem ler. Um retrato de muitas entidades nossas contemporâneas, amiúde ‘vespeiros de intrigas’: empresas, bancos, governos (as teias de que os governos se entretecem…), as reuniões dos ‘grupos de trabalho’ (p. 123-133)... A realidade de mãos dadas com a ficção. Mais do que um narrador e mais do que um estilo. No enredo, começa-se, por exemplo, a ler um livro e depois ele fica a meio. A ironia sempre presente, assim como o lado rocambolesco e até grotesco das histórias. Todas as histórias do livro são – como o próprio título preconiza – histórias de amor; o autor nunca é romântico, acredita no amor, mas…
            A apresentadora traçou uma panorâmica do enredo e mostrou, inclusive, o seu agrado por não ter sido escrito em obediência ao chamado «Novo Acordo Ortográfico» – o que lhe emprestou ainda maior encanto.
 
As personagens existem!
            Júlio Conrado não se limitou aos agradecimentos formais. Quis informar da existência real de três personagens cujas histórias de vida foram por ele incluídas nesta Turbulência: um juiz desembargador, que não pôde estar presente; Diana Duarte Gomes, nadadora que, aos 14 anos, bateu todos os recordes (que ainda mantém) e foi, nos Jogos Olímpicos de Atenas, a mais jovem atleta portuguesa olímpica de sempre, que ali se sentou, ao lado de Teolinda; João Orlando dos Santos Martinho, o contabilista que viveu no Brasil dos 18 aos 28 anos e que apertou a mão a Che Guevara, conviveu com o arquitecto Oscar Niemeyer, assistiu ao lançamento da 1ª pedra de Brasília… e o mais que se lerá! O Amigo também lá esteve!
            Explicou o Autor: homenagem minha, portanto, à Justiça e ao Direito, ao Desporto (através de uma notável figura da natação, hoje arquitecta e empresária), à odisseia da diáspora que foi – e é tributo a pagar por muitos portugueses.
            Terminou com palavras de reconhecimento ao editor, aos presentes, à família. E anunciou que, na abertura da temporada teatral, vai passar a ser também dramaturgo, pois o Teatro Experimental de Cascais tem na programação levar à cena o seu livro O Corno de Oiro.

            Bebi um cálice de porto; saboreei apropriado mil-folhas (era o Dia Mundial do Livro!...); deitei um olhar arqueológico às seculares arcarias pétreas; e, à saída, regalei-me com os letreiros em língua francesa (atelier de reliure, imagine-se!). E vim de alma lavada!
 
                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, edição de 24-04-2015:



 

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